segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Sobre Arte

Sempre fui um deslumbrado perante o que o Homem conseguiu fazer a partir da sua imaginação e criatividade. Com um pincel e tintas, uma pedra, uma tela ou um madeiro, onde pudesse reproduzir formas, figurativas ou não, com um cinzel e pedra ou um pedaço de madeira, fazer surgir uma lágrima num rosto ou o drapeado de um vestido, com uma caneta e uma folha de papel onde pudesse escrever sobre o que viu, ouviu dizer, sonhou ou imaginou ou ainda com uma pauta e um qualquer utensilio capaz de repercutir sons, a que mais tarde se chamou tambor, violino, piano, flauta, viola ou outros, de entre as centenas que penso existirem espalhados pelo mundo e nas mais diversas culturas, e a que se chama simplesmente instrumento musical, o Homem fez Arte, arrancando das telas, das pedras, dos papeis e das canetas ou dos instrumentos, o mais maravilhoso que aos olhos ou aos ouvidos dos homens, podem fazer desencadear neles as mais variadas sensações, emoções, pensamentos e até recordações, umas organizativas outras apenas reorganizativas.
A Arte em geral faz-me sair de mim e partir para outros mundos, onde me sinto inundado de prazer, de uma mirífica paz, de sensações que as mais das vezes não sei expressar mas apenas ficar quieto, a senti-las.
Mas creio que de todas as formas de Arte, embora as amando a todas, pois todas elas ocupam um lugar imenso dentro de mim, a que mais me fascina é a escultura, que desde o tempo dos assírio-caldaicos, indús, egípcios, gregos, como por exemplo Fídias, Aleixo ou Lisipo, me deixam no mais completo êxtase.
Sei que de tempos mais antigos pouca pintura ficou, alguma escrita, alguma escultura, em comparação com o que foi produzido a partir da Idade Média e sobretudo na Renascença. E se calhar por ter visto mais escultura da Renascença, ao olhar para uma peça de Miguel Ângelo e sobretudo Bernini, me fazem sentir mais perto do Criador, de Deus! Ou se mais tarde olho uma talha do Aleijadinho ou uma terracota de Machado de Castro, sinto-me sempre com os pés acima do chão.     
O David do Buonarroti é de uma perfeição quase absoluta, mas o David em Esforço, de Bernini, naquele sair da pedra a gritar a sua raiva contra Golias, como se de facto tivesse voz, e a esticar a funda com a pedra que o mataria, arrepia-me de beleza.
Mais recentemente, além do nosso Soares dos Reis, fico-me por Rodin e Brancusi embora tenha medo de ser injusto com uma imensidão de outros grandes.
Hoje em dia, no entanto, a escultura, é para mim, mesmo feita a martelo e não me comove um bocadinho, quanto muito entretêm-me.
Não que diga que "isso até eu fazia". Não, não caio nessa estúpida asneira, porque sei que em boa verdade não o fazia coisa nenhuma. Mas o que têm estes escultores, cortando a pedra a black and decker, com os que esculpiam a escopro e cinzel?
Enfim, é só um desabafo, porque o que sinto ao olhar para um Caravaggio ou um El Greco, ou a ouvir um Chopin, um Bach ou um Mozart,  também, as lágrimas me bailam logo nos olhos.

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