quarta-feira, 25 de junho de 2014

E a minha

E a minha alegria era feita de crenças, era feita de tudo aquilo que eu pensava estar a viver sem críticas nem medos. Vivia com aquele "ânimo que vence todas as batalhas".
A meu lado sempre tive alguém a quem amar, por quem me apaixonar, Julieta, Isolda, Beatriz Portinari, Heloísa, Eugénia, não a Eugènie Grandet, do Balzac, nem a condessa Eugénia de Montijo, por quem, embora por pouco tempo, se apaixonou Napoleão III, mas a minha, a de toda a minha vida e de todo o meu amor.
E a minha alegria foi sempre isso, e a minha maneira de viver tem sido sempre isso, sem crenças nem medos, só a olhar-te com aquele "ânimo que vence todas as batalhas", minha "bem nascida" dentro do meu peito, dentro de tudo aquilo de que me faço e sou. Tu. 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

SEMPRE

Sempre fiz tudo para tentar tudo compreender. Tem sido quase obsessivo, quase uma loucura numa busca incessante e desordenada. Compreender, ir para além do que os meus olhos vêm, do que os meus pensamentos alcançam, do que os próprios astros me queiram dizer na sua linguagem cifrada.
No reino divino do silêncio, pergunto-me muito a sós comigo, em que é que eu afinal acredito, porque para poder acreditar tenho que compreender.
As pessoas com quem me vou cruzando vão-me dizendo coisas que não oiço, e sinto que há em mim sensações que não sinto.
Bate-me o coração a compasso, como se fosse o tiquetaque do relógio do mundo, síncrono e dialógico, como que a avisar-me sempre de que a perfeição que procuro só a poderei compreender na rigidez da morte.


Sou muito mais poeta do que homem de ciência. Sou muito mais um místico do que um activista, na confusão de ser um irrequieto anacoreta. E procuro a religião em tudo e de todas as maneiras. É quando penso que a ciência também é uma religião na sua permanente necessidade de religar conhecimentos e experiências feitos de todos os dias e de todos os momentos.
Mas olho o mundo como um artista, sobretudo como um poeta e observo tudo com todo o cuidado e a atenção de um analítico, e vou ligando as coisas umas às outras também como um historiador quando olha para a grandeza das coisas dentro das comparações dos tempos.
A minha vida é como um reino sem fronteiras, feito de espaços e amplitudes e da multiplicidade de me ser assim.

Outros deuses

Outros deuses se enamoraram por mim, mas eu com medo de lhes desagradar, refugiei-me a um canto de mim, que é a minha loucura, e fingi que não os entendia.
Foi assim que consegui sobreviver, eles a pensarem que eu me sentia por eles amado, e eu a deixar-me amar por eles egoisticamente, não lhes dando nada em troca, cobardemente amedrontado de poder fazer alguma coisa de que não gostassem e eu não soubesse lidar com a ira que neles poderia desencadear.
Mas um dos deuses salvou-me. Deu-me um beijo com um sabor intenso a memória, um sabor a morte, e assim fiquei liberto para sempre de fugir ao amor que outros deuses me queriam dar.
Sei que não o compreendi, na imensidão do meu sorriso triste, mas foi quando encontrei a ternura do teu olhar.
E a ventania enrodilhou-me os pensamentos e flocos de neve caíram e envelheceram-me a alma.
Parti então não sei para onde nem levado por quem. Parti, sei que parti, e quando dei por mim era um pássaro que voava muito alto e donde pude ver a pequenez do mundo.