domingo, 28 de setembro de 2008

E continuo a pensar

 Ainda há bocado vim pôr aqui neste blog umas ideias com que acordei a pensar. E continuei a pensar. É um vício como outro qualquer. Mas que às vezes me assusta, porque é quase um masoquismo. Claro que não o masoquismo de Sacher-Masoch, mas este, menos agressivo, de saber que pensar me faz sofrer. 
Mas, o pior é que pensar para mim é quase uma forma de que necessito para viver as minhas tão necessárias catástrofes, e, também aqui, claro, usando o termo não na sua forma mais vulgarizada, mas recorrendo à sua etimologia grega que significa tão só, "mudança de sentido".
Já sei que vou passar este domingo a pensar, não seja eu, por definição, um animal pensante e criativo. O que é a vida? O que é um gene? O que é a relação? O que é o amor?
Enfim, perguntas e mais perguntas, a que continuo a não saber responder e o que me vale é estar uma ventania enorme lá fora. E ao ouvir o vento, vou muitas vezes com ele, porque -  é um segredo - , ele dá-me sempre imensas respostas. 
Acontece é que muitas vezes as perco, diluídas nele, que ainda tem menos formas que as nuvens, ou tem apenas as formas que dele desenho dentro de mim, ser limitado, e onde nem sempre cabem as respostas que ele me vai dando às perguntas que lhe faço.


Acordei a pensar

Acordei a pensar. Acordo assim quase sempre. Até aqui nada de muito novo. Mas acordei a pensar em mim, o que já é diferente. Mas não numa atitude egóica, virado para o meu umbigo, não, pelo contrário, a pensar em mim como forma a fazer parte das formas que me rodeiam e nem sempre sei identificar nem compreender. Sei que pode ter a ver com um certo nervosismo, com uma espécie de movimento browniano, dentro da minha cabeça, não feito exactamente de partículas de pólen mergulhadas num líquido, e que deve o nome, não ao seu criador, Robert Brown, mas, a Einstein  que pegou neste conceito quase um século depois, mas a uma inquietante interrogação, de se me é possível fazer parte de um mundo, onde nele ando numa forma muito minha de um quase "passeio aleatório", embora não ande exactamente bêbedo. 
E o curioso é que não estou a desenhar, a pintar ou a esculpir, mas a tentar interpretar e explicar-me as formas que redopiam dentro de mim e me confrontam com a ideia que tenho do belo. E se o belo e a beleza são ou não a mesma coisa. Se a beleza resulta de uma espécie de equilíbrio entre ordem e desordem, estando eu tão em desordem, como posso então viver, se a beleza é para mim uma outra forma de água, que se o meu corpo não tem, morre. 
Posso recorrer à geometria fractal, ou à própria linguagem fractal, já que esta nova ciência reduz exactamente o complexo ao simples. Mas... afinal tudo para mim é simples dentro da sua imensa complexidade! E então onde estou? Como posso viver num mundo que me agride só porque não me compreende, e muito menos sabe um mínimo sobre aquilo com que hoje acordei a pensar. Estudar mais a "teoria do caos" e mudar de sentido? Ou deixar-me violentar e pressionar para amar doutra maneira a vida e os outros? Será que uma nuvem tem forma? Será que cabe dentro de uma qualquer estrutura pré-definida? Não sei se sou nuvem, mas já me chamaram neflibata. A verdade é que já me chamaram muita coisa! Mas afinal quem sou eu? Não com certeza isso tudo que já me chamaram, porque tenho a certeza de que essencialmente sou eu. Mas quem? E de que forma pensa este meu cérebro que ama? 
E o " movimento browniano" continua dentro da minha cabeça.

sábado, 13 de setembro de 2008

BERNARDO

Hoje vou pôr aqui uma carta que escrevi ao meu neto Bernardo, a segunda. À primeira chamei "Requiem  Para Um Gesto Inacabado", e ainda consegui que fosse publicada no "Cartas e Outros Contos", que na altura já estava no prelo. A esta chamo só :
BERNARDO 
Há dois anos escrevi-te a primeira carta, uma carta sofrida, feita de dor e desespero, numa quase louca revolta por me sentir a perder-te. E nunca mais parei de te escrever, cartas que só tu lias , na minha imaginação em sofrimento. Sim, nunca mais parei. Quotidianamente te escrevo, e falamos, pois passaste a ser para mim e para a Avó Gégé, o nosso Anjo S. Bernardo.
Não foste beatificado nem canonizado pelas leis da Igreja. Mas foste-o pelas leis do Amor que te temos e de que o Senhor, estamos certos, também abençoou.
De todos os sete netos és o mais querido, porque só te pudemos amar em pensamento e em espírito, duma forma ideal e transcendente.
O Senhor não te salvou a Vida, mas salvou-te da Vida, desta vida tão cheia de más vivências, convivências, interpretações, desilusões, traições e faltas de amor.
Ao menos contigo pudemos manter a relação mais pura de todas, em que nada nem ninguém interfere para a puder estragar, para lhe tirar o brilho que naturalmente tem por ser tão Divina.
Continuas a ser mais deus do que homem. E é nessa condição que te pedimos que nos ames cada vez mais, e que nunca deixes instalar entre os que te amam, mal entendidos, ressentimentos, desamores.
Com esses olhos que nos ajudam a tudo aceitar, a tudo compreender, a tudo perdoar, e, se perdoar é dar duas vezes, que nesse perdoar se contenha e multiplique até ao infinito o amor que devemos ter uns pelos outros, ao sentirmos que nos olhas e nos amas nesse gesto feito de paz e além,  ao sentir como é diferente o amor que por nós tens.
Até amanhã, meu Anjo S. Bernardo, e cá vou continuando a dar-te os meus beijos "franjados de infinito".
O Avô Zé Manel 

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

NÃO SEI

Não sei que te diga mais. Já te disse tudo, embora esteja convencido de te ter dito bem pouco. Nada.
Mas é dizendo que te digo? Ou é sentindo? Porque é que me hei-de  reger pelas leis de um mundo a que não pertence o meu reino?
Jogo nos independentes, como dizia o meu Pai que Deus tem.
Mas... e jogo com quem? Comigo, e com as várias formas de mim. Reconheço que não é pouco!
Com estes diálogos que travo com o que me acontece e me faz ser, sinto-me num diálogo de Debussy, o do "vento e do mar", por exemplo.
Vento que sou, e me faz perder o norte a donde eu vim. Mar, por onde me aventuro e perco.
Sinto-me só neste mundo que não me compreende. Outro Zaratustra?
E fico reduzido ao vulgar, ao já visto,quando para mim o "déjá vu" não existe. Só a ideia dele. 
Porque vejo sempre. E vejo porque sinto. E sinto porque sou. E...
Já o Leonardo da Vinci dizia que "todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos".  

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Só queria dizer que te amo. Só! é muito, é pouco? não sei, e confesso que não é isso que me preocupa.
Não sou o poeta do SÓ, nem me chamo António... mas sou Pobre, como ele assinava as cartas que escrevia de Paris. E sou Pobre, porque vivo no meio desta pobreza toda, de espírito, no meio desta ignorância de não se saber a diferença entre o Belo e a Beleza, nesta pergunta constante de saber quem sou eu, afinal. E sou pouco. Ou nada. Sou Pobre.
Ele, o poeta do SÓ, escondia as cartas que escrevia à Mãe, no fundo duma gaveta da cómoda, "atadas com um retrós/ não vá alguém lê-las/ e rir-se do que nos comove a nós". 
É isso, o que tenho que esconder, para que outros não se riam do que me comove a mim, a nós, a ti, a quem amo tanto. Tu, de quem faço o outro, sem me preocupar em saber quem és. És! basta-me que sejas. E o que me rodeia é uma gente, uma espécie, que não é. Nem quer ser. Conforma-se com viver. A capacidade que terá de existir, de ec-xistir  e portanto de se auto transcender, não lhes importa, não faz parte dos seus sonhos, do seu quotidiano, se é que sonham, se é que têm um quotidiano.
Eu sonho, é uma das formas de me ser livre. E é importante saber que sou, que me posso autotranscender, e Ser. Se quiser. Mesmo se não puder! Mas sou, apesar de tudo e de todos, porque a minha vida é um mundo. O meu. E de quem o quiser e puder partilhar. 
E é meu e não é, se de facto  sou  verdadeiro, ao dizer que também é de quem o quiser partilhar. Comigo. Com este mundo de que me sei parte. Ou todo. Porque, em boa verdade, meu, meu, SÓ mesmo aquilo que dou.

domingo, 7 de setembro de 2008

Recomeço

Passou-se um ano sem que viesse até ao blog escrever qualquer coisa. Não deixei , apesar de tudo, de escrever alguns textos por aqui e por ali, que vou tentar pôr agora em comum com quem me quiser ler.
Sei que uma Maria gostou muito de ler o meu primeiro livro, "A Decadência do Sonho", o que me deixou cheio de curiosidade de a conhecer melhor. Também gostei de a ler. Tem textos extremamente interessantes, e, na minha opinião, devia tentar escrever para publicar e estar à disposição nas livrarias para que muito mais  gente a lesse. 
Vou experimentar ver se este pequeno texto vai para o blog. Se sim , vou então escrever mais logo.