Também em tempos li Shopenhauer mas não me convenceu. Até prefiro Kierkgaard porque sempre escreveu "O Conceito de Angústia" o que, como escrevi em cima, muitas vezes me assalta, e o "Desespero Humano" que tantas vezes também tem a ver comigo, sobretudo quando olho à minha volta e vejo tanta gente medíocre e pequena, mas sempre a pôr-se em bicos dos pés. Por elas é que com certeza não se suspende o tempo dentro de mim. Nem o tempo nem nada. Porque com elas também nunca acontece nada.
Depois olho para o que tem sido a minha rede de afectos, de cumplicidades, de influências, as encruzilhadas onde também me perdi tantas vezes em busca de sentidos ou do sentido. E ajudado pelo tempo, fui esculpindo as tuas formas e fiz delas veículos para o sentido que procurava encontrar até no não sentido. E dei passos, percorri caminhos, fui faseando intenções sem as quais nunca haveria processo. E vi cada vez mais que não havia um antes e um depois, mas sempre um aqui e um agora, esse hic et nunc latino a que reduzia as horas e os dias e até o que ia pensando de ti enquanto nos beijávamos. E te ia sentindo. E isso sempre me levou a constantes aventuras, que me obrigaram a passar rubicões e a cortar nós górdios, enquanto me encaminhava para ti. E tudo foi ganhando formas, que se transformaram em ideias que depois voltaram a ser formas para por fim chegar a ti, Pessoa. Oh! como te amo mesmo assim! E como o meu tempo suspenso se solta, por fim, para te abraçar sem fronteiras a não ser a da compreenssão e da aceitação de que como Mahler ou Bernstein também eu nunca em vida serei reconhecido como compositor. E fui-me pôr a ver, pela enésima vez um filme da minha infância, "Há Lodo no Cais". E mais uma vez não fui eu a ganhar o Oscar de Melhor Actor. Continuou a ser Marlon Brando.