domingo, 10 de dezembro de 2017

Na minha adolescência

Na minha adolescência, e quando ainda fazia anos, sempre tive a ideia de que dava mais um passo para fora do tempo, e cheguei mesmo a sonhar que esse passo que dava era mesmo para um abismo de que nunca conseguia ver o fundo. Penso que a princípio me custava, confesso, como que me sentia percorrido por um medo irracional, por um qualquer desconhecido, que afinal não seria mais do que o tal abismo. Mas hoje em dia, com o passar dos anos já sinto um grande desapego pelo tempo, como no fundo  vou sentindo também por tudo o que são, ou me parecem ser, coisas materiais.
Há anos que não entro num antiquário ou num alfarrabista à procura de um livro ou de uma gravura antiga, como também já há uns anos que cada vez compro menos livros, tendo é voltado a ler muitos de que já me tinha esquecido, e onde volto sempre a sentir um grande prazer ao lê-lo e ao descobrir coisas novas, diferentes.
Continuo a entrar nas livrarias, isso entro, é um vício como outro qualquer, folheio os livros, leio as badanas, às vezes até me debruço num prefácio ou sobre a biografia do autor que não conheço. Mas de resto, contento-me em olhar e a revisitar os livros que tenho em casa, e são muitos milhares, e assim me vou deixando tentar por voltar a lê-los, e no que neles sublinhei ou escrevi nas margens das páginas. São eles, sim, bocados de tempo que fui usando conforme pude e soube, ao longo do tempo que fui gastando a construir em mim um pensamento, uma maneira só minha de ser e de estar, sendo cada vez mais claro em mim, que mais cedo ou mais tarde, irei sair definitivamente do tempo, quase que sem que o tempo dê por isso

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