domingo, 26 de novembro de 2017

Um dia destes

Um dia destes morri, mas foi de mim que me senti órfão. E ao sentir-me órfão senti-me tudo, senti-me tudo o que não tenho. Mas vou sendo assim, nesta miséria dourada com que me visto e me dispo conforme olho ao meu redor e procuro perceber para onde está o vento.
E os meus dedos adormeceram ao piano, naquele piano em que as teclas são pontos de mim, são sons que os meus olhos continuam a tocar. Depois sinto o silêncio, e o preto e o branco das teclas sussurram-me fantasias, nocturnos e até sinfonias que não toco porque não sei ler as pautas.
Mas um dia destes ouvi uma criança a chorar. Sentia-se perdida, como eu, e então fomos passear juntos ao longo do rio, e ao fundo, ela encontrou os pais. Espantoso!

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