sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Póstumos

Alguém me dizia há tempos que há homens que já nascem póstumos, o que me fez pensar, por outro lado, como há tanta gente que já morreu há que tempos, só que não deu por isso.
Digo isto não por ter posto, aqui há uns dias, alguns pensamentos de Pablo Neruda, mas porque simplesmente olho à minha volta e só vejo mortos-vivos, num cemitério imenso, onde embora se movimentem pessoas que respiram, que têm o coração a bater e até são capazes de dizer umas baboseiras sem nexo, na verdade é como já não fizessem parte do número dos vivos, porque apenas vegetam e vêm os comboios a passar, sem sequer saberem as horas.
São pessoas que fingem, mal, que são pessoas e que lhes devemos prestar atenção. Para mim, tirando obviamente os que nasceram com alguma deficiência mental, têm de mim apenas um profundo desprezo, olho para elas como se fossem apenas uns objectos obsoletos e sem qualquer interesse.
E olho para um carreirinho de formigas em grande azáfama, que, e segundo os estudiosos na matéria, em cada dez só duas trabalham de facto, as outras oito apenas atrapalham. E sinto-me rodeado de gente que só me atrapalha e ainda se arroga o direito de ser uma coisa qualquer, que no seu sem sentido encontram um sentido, que pode ser muitas coisas, mas que também não tem importância nenhuma saber qual possa ser, porque, em boa verdade, nem se apercebem de nada.

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