segunda-feira, 1 de agosto de 2016

E submeti-me ao poder

E submeti-me ao poder impaciente do movimento dos astros. E como que ficava parado a ver os deuses a andar de um lado para o outro, atarefados com aquilo que os homens lhes pediam, enquanto o vento me enrodilhava os pensamentos, e me empurrava a pouco e pouco em direcção à confusão que há sempre quando os deuses andam a fazer alguma coisa e deixam os homens ver. É por isso que os homens não os entendem. Porque os vêm, e por isso deixam de os sonhar.
E sinto que a chuva a cair-me em cima me molha mas também me lava, me purifica e me refresca, como se fosse o aceno ou um beijo de um amigo que não se vê há muito tempo. E isso apazigua-me e faz-me sentir menos só.
E penso que o meu destino pode não ser só alguma coisa escrita pelos deuses no firmamento, numa noite insone, mas uma ordem que recebo não sei de quem e me destina um trabalho para os meus dias, como Hesíodo escreveu.
E não sinto medo, porque fico mudo a pensar, sem dizer palavra nenhuma, porque como dizia o poeta só das palavras devemos ter medo. Não, não sinto medo porque não digo nada, quieto e mudo, simplesmente a pensar.

Sem comentários: