terça-feira, 5 de julho de 2016

E no meu cérebro

E no meu cérebro esboçam-se arquitecturas racionais, ficções terrestres numa metafisica que construo com templos que invento dentro de mim para que neles eu possa pôr os deuses que me apetecer e que ficam a pulular num sem lugar qualquer, bem à minha volta.
E falei com REM (Rem Lucas Koolhaas) o arquitecto com quem pude falar sobre o clacissismo pós-moderno, com a presença do passado, de um passado sempre presente.
Foi ele que me explicou que no plano das estruturas acha que não há fronteiras, sendo mais importante a estética final do que os meios que a interligam. Não vê limite entre estética, áreas e eras, entendendo que um bom projecto de vida cruza fronteiras próximas entre o urbanismo, a pintura e até a literatura. E onde a dança e o teatro são as artes do corpo. E senti-me na "Cidade em Pânico", que ele escreveu, a ler outro livro dele "A última Dimensão": foi quando me perdi e por entre umas ruelas encontrei no chão "O Ocidente da Arte". E perguntei a Herzog e a Meuron, que matérias podia usar para a construção dos meus castelos interiores. E depois foi Virilo que me integrou no seu conceito de urbanismo, que adaptei com amor ao meu urbanismo interior. E abracei-me às paredes dos templos que costumo guardar bem cá dentro de mim, e deitei-me sobre o mundo, e senti-me um humano desumano, perante a impossibilidade da globalização sem virtualismo. E encontrei-me nessa especificidade de contextos e desmaterializações, para poder contar a história daquelas pedras, que juntas fizeram a casa e a própria luz que a invade me preenche, mal acordo de uma noite insone, fazendo vir ao de cima as memórias e os sonhos, os desejos e os traumas de quando foram brutalmente arrancadas à terra com escopros e martelos
E essas pedras obcecaram-me, porque lhes quis sempre encontrar a alma que não têm, mas de que eu preciso para sagrar os templos que construo e em que acredito poder pôr, em sossego, os deuses que vou inventando.

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