domingo, 13 de julho de 2014

Vou andando

E vou andando, não só atento ao espaço que percorro, mas também ao movimento das coisas, e  de tudo o que tem movimento à minha volta, que por mim passa e me acontece. Até às pedras, porque a essas empresto-lhes o meu próprio movimento e é assim que elas vão comigo, arrastadas pelo meu sonho de lhes conseguir dar vida.
Paro numa curva da estrada para pintar as paisagens e, enquanto pinto, vou-me apercebendo das diferenças entre o que sou, o que penso e o que sinto, e a pouco e pouco vou arrumando tudo dentro da minha memória. E não é um imanentismo sem qualquer objectivo que sei nunca me poder levar senão ao nada, mas uma outra forma de me pensar.
E fico-me com o que sinto, só porque sinto estar nesse movimento, de mim nas coisas e das coisas em mim, a forma mais poética com que me minto.
Depois então é que encontro luz, nos teus olhos, em que só vejo sóis, que não só me dão luz como me aquecem, num movimento que é intrínseco a esse olhar-te e perceber-te o brilho e a expressão de onde me vem a luz de todo este sentir-te que me ilumina o pensamento e me ajuda a lembrar-me de Aristóteles, quando me debruço sobre a imitação idealizada das coisas, como uma farsa exercida sobre o real. O que vejo e o que sinto, é apenas o que vejo e o que sinto e não pinto mais o que vejo, porque descubro que primeiro tenho que aprender a ver, culturalmente, como dependo de tudo o que sonho.

Sem comentários: