quarta-feira, 16 de julho de 2014

No fundo

No fundo sou um empregado de balcão como outro qualquer. Passo o dia a atender pessoas, que me veiem falar de tudo o que lhes apetece. E eu oiço-as com toda a atenção, numa escuta incondicional e positiva, e procuro compreende-las o melhor que sei e posso. No fundo sirvo-as.
Há muitos anos fiz um estudo sobre o alcoolismo e os alcoólicos, e por isso tive que me empregar num bar três dias por semana. Foi uma experiência única e muito rica, ora atrás do balcão, ora a servir às mesas e a quem por ali andava de pé. Ainda hoje me lembro de como nesse bar continuava a ouvir pessoas a desabafarem comigo entre dois copos. Ou por entre muitos, lá mais noite adentro.
E no fundo, todos nós, de uma maneira ou de outra passamos a vida a atendermo-nos uns aos outros nas mais variadas circunstâncias. Por mais alto que seja o cargo, por mais ricamente que o gabinete seja decorado, temos sempre um balcão pela frente. E o curioso é que toda a gente acaba por se esconder atrás de qualquer coisa, porque no fundo toda a gente, de uma maneira ou de outra, passa a vida a esconder-se de muitas coisas, começando por se esconder de si mesmo. Serão raras as excepções.
No fundo sou um empregado de balcão como outro qualquer, e no meio desta imensa girândola de maneiras de estar na vida, vou sendo, gerundicamente, tudo o que está em mim em potência.

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