quarta-feira, 16 de julho de 2014

Fiquei a escutar

Fiquei a escutar o teu silêncio com toda a atenção, depois das coisas horríveis que me disseste. Saíste de ti em gritos de descontrolo, em gestos e trejeitos como os de quem anda muito perto da loucura.
Não tirei as mãos dos bolsos senão para pegar no lenço da minha paciência e com que depois te limpei as lágrimas e o nariz.
Depois esse teu silêncio começou a pesar-me demasiado e afastei-me para longe pensando que assim te poderia ouvir melhor. Mas o teu silêncio ainda me agrediu mais, e quando te olhei bem nos olhos, senti que te tinhas arrependido de tudo o que me tinhas dito. E eu perdoei, perdoei com um aceno de paz que trazia escondido nas mãos e dei-te um beijo. Então chorei todo aquele nosso desencontro, toda aquela nossa despedida, enquanto uma fanfarra tocava ao longe a música do nosso desassossego.
Passei ao quadro seguinte e até me sentei num sofá para melhor e mais calmamente o poder ver e apreciar. Era de facto desconcertante, desarrumador, fantástico.
Havia imensa gente no museu, e tu vieste sentar-te ao meu lado a sorríres-me e cheia de cumplicidade.

Sem comentários: