sábado, 1 de junho de 2013

Passo na rua

Passo na rua e sinto-me invadido por todos os cheiros da vida. É quando reparo que há olhares que cheiram, sorrisos que cheiram, gestos que cheiram.
Tudo, afinal, é um imenso cheiro à minha volta, e que me irrita a pituitária.
Há perfumes mas também há maus cheiros, a óleos queimados e podres, esquecidos em motores ou em corpos velhos e mortos, abandonados ao sol, ao vento e à chuva, as tais três irmãs caridosas, que a todos nos tocam ao de leve em tempos de calmaria.
A minha pituitária apenas sente o vento que passa apressado para me fazer respirar embora por pouco não tenha pisado um charco de pituita, esse vómito viscoso que os bêbedos têm pela manhã.
E encaminho-me para a abra do meu descontentamento, mas onde sei que tenho sempre lugar para fundear o meu barco interior.
Mas tudo foi vida, naquela rua e apesar de tudo, e quando reparei que choravas, cheirou-me a ternura, a uma ternura imensa. E dei comigo a beijar-te esse cheiro.
E passei pela rua a assobiar tristezas já esquecido do que lá tinha ido fazer.

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