sábado, 1 de junho de 2013

Cultivo a arte

Cultivo a arte, no sentido alargado, das artes,  o que pode ir até à conversa ou à desconversa,  o que não deixa de requer inteligência e atenção.
E posso chamar-lhe a "A Arte de Conversar", não tendo no entanto qualquer intenção de plagiar Ovídio, mas de apenas pôr em verso aquilo que digo e oiço os outros a dizerem-me.
Há um sem número de coisas que para mim são arte, onde tudo gira muito à volta das cores e dos sons que me perpassam os sentidos a toda a hora. À volta dos olhares e dos gestos, em que tudo para mim é organizativo, reorganizativo, num universo que pretendo sempre aberto e plural, cheio de tudo o que possam ser perguntas, inquietações, dúvidas, e até uma certa amargura por me fazer sentir aquém do próprio sentir.
Não vivo em função de dogmatismo nenhum, e penso que não tenho complexos além daqueles que são inerentes à minha condição de humano.
E faço-me perguntas mais ou menos socráticas, mais ou menos aristotélicas, para acabar por concluir quase sempre com Francisco Sanches e o seu "Quod Nihil Situr". E como para mim é cada vez mais claro que "nada se sabe", sinto-me o tal desarrumador de ideias como me chamou um dia o meu amigo António Pinto Leite, quando fez a apresentação de um dos meus livros.
É que dou comigo a jogar com as ideias e com os sentidos, e a jogar-me a mim mesmo num poker que nunca soube jogar, só para ter o prazer de perder.
A arte também está em ser-se nesta imensidão que é Ser. E sou tudo, naturalmente, convivendo o melhor que posso com o ânimus e a ânima que tantas vezes de se digladiam dentro de mim, fazendo-me sentir a viver sempre um misto de poligamia e de poliandria.
E cultivo as artes, a Arte, esta, de viver com tudo isto, de conseguir ser tudo isto, sem nunca, no entanto, deixar de ser eu.

Sem comentários: