terça-feira, 27 de novembro de 2012

Entrei

Entrei no mar , na Praia  Grande, ali em baixo, como quem entra numa casa vazia e abandonada.
E pensei em quantos outros antes de mim por ali também tinham entrado um dia, ou tentado entrar.
E as águas do mar souberam-me a lágrimas e a casa onde me pareceu ter chegado, soube-me a sonhos, sonhados e mortos, ali mesmo, por quem não tinha conseguido resistir às paredes e ao chão daquela casa feita de águas revoltas, num vai-vem sem parança, de sonhos perdidos, afundados naquela casa perdida e abandonada, naquele mar onde sempre pensei vir a viver um dia.
E o mar pôs-se a contar-me histórias ligadas desde sempre a esta casa, onde eu, afoito, entrava agora, lutando com desdém contra o frio e as correntes, que mais me pareciam ser correntes de ar a redopiar pelas janelas e portas esventradas.
E foi a olhar para esse infinito casario, que atirei as minhas cinzas, como se fosse o Vesúvio naquele ano de 79.

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