Depois pensei em fugir, mas começou a acontecer-me como naquela escultura de Gian Lorenzo Bernini, "Apollo e Daphne", e também eu me fui transformando em árvore, e fui criando raízes, e folhas, e troncos, e todo o meu corpo acabou por ser uma imensa floresta de enganos, para poder sentir o tempo a passar por mim, feito aragem a cheirar a maresia, a cheirar a tempo e a terra, a cheirar aos cheiros de todos aqueles que por mim passaram e amei.
E senti vergonha e uma imensa tristeza, e as minhas lágrimas foram toda a mágua de que o meu corpo é feito, e correram sem sentido nem destino pelo meu olhar em espanto. E continuei a abrir covas já sem saber para quê, como que apenas para vasculhar o mundo e nele conseguir encontrar um sítio seguro e belo onde por fim possa guardar a minha dor.
Sem comentários:
Enviar um comentário