sábado, 5 de novembro de 2011

Comecei a subir

Comecei a subir a montanha à procura de mais luz. De um outro silêncio. De uma outra paz. De tudo o que me ajudasse a carregar a minha cruz. E caminhei horas e dias, e caminhei tempos de um tempo que já nem sequer era um tempo deste tempo, e por isso já nem sequer era o meu. Ia a fugir do mundo, confesso, e de tudo o que me atormentava e não me deixava viver. Ia a fugir de mim. E o céu estava cada vez mais perto, e o azul, e a luz. E o deserto. E eu, sempre a fugir de mim.
Já Goethe, ao morrer, tinha pedido mais luz (mehr licht). E também foi Goethe que disse um dia que nenhum homem pode fugir de si mesmo. E eu a acreditar que sim mas a fingir que não.
Continuei a subir a montanha, com aquela ideia obsidiante de um provérbio zen que diz "quando chegares ao cimo de uma montanha, continua a subir".
E foi animado desta ideia que continuei a subir, que deixei tudo e continuei a subir, sem pensar em nada, sem me preocupar com nada, nem com o fim da montanha, que afinal era eu, mas só e apenas, preocupado com o fim do meu próprio fim.

Sem comentários: