domingo, 14 de agosto de 2011

ESQUECER

E beijei-te com a avidez de quem tem fome desde há muitos sonhos. E senti que o teu olhar me perguntava se era tudo verdade. Foi quando vi que uma lágrima te corria pela cara e me gritava angústias. E até me molhou o peito, enquanto as minhas mãos se passeavam pelo teu sentir.
Voltei a beijar-te, os gestos e o sorriso, e com as minhas mãos vazias, esculpi na pedra o teu olhar, e esculpi também depois o travo com que fiquei, ao saborear em ti tudo o que o meu sonho um dia me tinha contado. E sofri, sofri para depois te poder esquecer.
E resolvi fugir de ti e de todos, e exilar-me nos confins do mundo levando comigo debaixo do braço um livro de Vintila Horia: "Deus nasceu no exílio".
Também Augusto exilou Virgílio para os confins do Império, para Tomes, o país dos Getas. Só que ele, mesmo assim tinha um cão a que pôs, como vingança, o nome de Augusto.
Mas eu não quero ter cão nenhum, e se tivesse, nunca lhe poria o teu nome. Quero esquecer-te, mas sobretudo, quero esquecer-me. De mim. Única forma de me libertar, e ficar preso.
Foi quando senti que Zamolxis, ao vêr a minha fé, me recebia e apertava ao peito.


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