sábado, 10 de julho de 2010

MEU NOME É CONSTRUÇÃO

Como construtor de textos, sinto-me também um pouco construtor de mundos, pelo menos dos meus mundos, embora quando olho em meu redor, nunca consiga ver muito bem o mundo, e muito menos esses outros mundos, porque tanto o mundo como os mundos de que me faço estão dentro de mim e, muitas vezes, egoisticamente fechados a sete chaves dentro de mim.
Mas sei que o mundo que consecutivamente se constrói e se destrói, é tal e qual como eu, quando também faço dos meus dias, arenas onde combato e me combato, e donde saio ora vencido ora vencedor, num ciclo sem fim de construçao e de reconstrução.
E vou atrás de mim, à minha procura, ou à procura da essência de mim tantas vezes perdida no não sei. E ás vezes penso que já nada me resta, só símbolos, numa representação de todas as experiências que vivi, num secretismo que não quero desvendar, enquanto não conseguir descer por mim abaixo, por este poço sem fundo que sou sempre eu e a minha verdade.
Lembro-me dos quadros de Jeronimus Bosh (o Sagrado, o Secreto Nome do Bosque) e, porque há sempre um bosque dentro de mim, onde me perco e amedronto, mas onde também é nele que me confronto, luto e defronto sem me querer descobrir, nos sabores, nos cheiros, nas cores da vida e dos teus olhos tristes e também sempre secretos. E paro a olhar com cuidado para as "Tentações de Santo Antão". E estou lá, meu Deus, estou lá, de tantas formas, com tantas cores, com tantas e tão variadas possibilidades de interpretação.
E vejo que não é só a vida que me foge, sou também eu quem foge da vida. E leio os clássicos, e leio os antigos, e todos me dizem o mesmo: sem os outros não vives, embora possas morrer sem eles.
E construi espaços e tempos para me conseguir aproximar ou afastar da vida e dos outros. E dei comigo a perguntar-me: será que apenas me quero afastar de mim, criar distâncias entre mim e mim mesmo para então no espaço vazio que houver, por fim me construir?
Foi quando me comecei a entreter com ver o tempo a começar a ser tempo, e a passar por mim, com tempo, e eu a continuar nesse tempo em busca do meu próprio fim. Olhei então os teus olhos e eles disseram-me que não. Que loucura! E construi o meu nome com as letras da minha imaginação. E o meu nome passou a ser procura.

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