quinta-feira, 29 de julho de 2010

Agradeço a quem me encontrar o favor de me contactar

É isso. Não sei bem de mim, onde possa estar, mas conto com a ajuda dos outros para ver se me encontro. Perdi-me. Também já não é a primeira vez, mas, com toda esta confusão em que toda a gente de uma maneira ou doutra, anda também perdida, confesso que sinto uma dificuldade cada vez maior em encontrar alguém que me dê alguma informação útil, que me conduza até mim.
Talvez a relação que tenho, em termos de qualidade, com a minha alma não seja de todo a melhor, o que obviamente não me ajuda nada. Como aprendiz de poeta, procuro sempre ir ao âmago de mim, das minhas experiências e formas de olhar o mundo que me rodeia, mas é exactamente nesse percurso que acabo por me perder. No entanto tenho com o mundo aquilo a que Goethe chamava "afinidades electivas", e como esse mundo a que me refiro é feito, essencialmente, de pessoas, o primeiro contacto ou é bom ou não é, porque detesto ficar numa relação com sombras. E se por acaso tenho mesmo que ficar com alguma, lembro-me de Adelbert von Chamisso, e pego numa tesoura, recorto-a, e guardo-a num bolso, daqueles de que me sirvo sempre para nele deixar esquecido o que não quero que me faça falta. E pego num livro, que não sendo uma pessoa é um objecto de que habitualmente gosto sem grandes rebuços. Tenho uma boa relação com os livros, uma quase cumplicidade ou aquilo a que Mozart chamava "coisas de pura intimidade". E continuo perdido nesta alma poética que já de si é um universo. E torno-me um perfeito dependente, porque em boa verdade esta é uma droga em que ando metido desde a primeira adolescência. Sem dúvida a minha droga de escolha. E fico quase numa angústia de fragmentação, do tipo das que Jean Cocteau sentia quando era internado para fazer as suas desintoxicações de ópio. Porque vivo os livros, como se fossem gente, e não consigo ser fiel a um só, não consigo ter um livro da minha vida, porque são sempre vários os livros das minhas vidas, porque também as tenho, muitas e variadas. Perdi-me outra vez! Não, não é um diletantismo qualquer, é mesmo esta minha maneira de ser quando ando à minha procura.

2 comentários:

MDores disse...

Também eu faço essa eterna busca, incessante e amarga/doce, da identidade emprestada ou talvez diluída na essência de cada um e de ninguém, como se esse ser tivesse a consciência de mim e eu talvez não. Todos me apontam o meu eu e só eu não o reconheço no meu emaranhado de pensamentos.
Obrigada Dr. Arrobas por me fazer reflectir sem vergonha dos meus pensamentos por estes breves instantes.
Já não se deve lembrar de mim: Maria das Dores Macias, 3 filhos e uma gastadora compulsiva dos lenços de papel no seu consultório...

JMA disse...

Obrigado e volte a aparecer.