sábado, 12 de dezembro de 2009

terra- corpo

Sinto-me preso à terra, abraçado pela terra, como se todo eu fosse uma raiz, que sem que ninguém a veja, me dá vida. Me faz ter um corpo. E começo a pintar o desejo, o desejo de desejar e ser o próprio desejo, e ser, para além de mim, o sonho, com que sonho tudo isso. Nessa altura debruço-me sobre a metafísica do corpo, sobre a ideia de que não tenho um corpo, mas que sou um corpo. E sou terra, húmus, homem.
E fui mais uma daquelas caras, que ávidas procuram alguma coisa, em algum lado, sem saberem o que procuram, sem saberem mesmo quem é que procura o quê. Sabem que querem qualquer coisa, o que não sabem é o que é essa coisa. Uma espécie de Princípio de Incerteza de uma espécie de Werner Heisenberg. Foi quando subi ao monte para me sentir mais perto do céu. Ou de ti? E fiquei com as pernas envoltas em nevoeiro e nunca mais vi os campos, onde me deitava na terra, que beijava, e onde me rebolava e chorava, por não conseguir fazer amor com ela. E lá em cima, no monte, podia tocar na minha dor sem que ninguém me visse, e ouvir a noite e o silêncio, sem que ninguém me ouvisse, e não ser nem da agua donde vim, nem da morte para onde me vou encaminhando, nem sequer da vida que me dá a mão, que beijo com toda a ternura e sofreguidão, parte desse corpo de terra que se me larga, caio desamparado no vazio de mim, e é o inferno.

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