quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Velasquez

A última vez que te vi ias a correr para apanhares o combóio. Pensei em chamar-te. E cheguei a gritar qualquer coisa. Mas e emoção foi maior e as palavras não tiveram som, tiveram apenas espaço. E como Michel Foucault também eu senti que a distância entre as palavras e a imagem de te ver a correr, era infinita.
E neste encontro/desencontro de espaços, palavras, movimento, e do meu próprio grito por gritar, fez-me lembrar-me do célebre quadro de Velasquez, "Las Meninas". E num placard com um anúncio já não sei a quê, mas onde havia várias pessoas, imaginei que uma delas era a Infanta Margarida olhada pelas "duenas", enquanto o pintor olhava como que para fora do quadro, ou para Filipe IV e para a rainha Mariana, reflectidos no espelho, dentro do quadro, enquanto a anã olhava para mim e era eu quem saia pela porta ao fundo e olhava para um cão que não estava lá, mas que eu imaginei. A verdade é que do meu olhar apenas ficou um jogo de olhares que não sei se sonhei ou se os vivi na realidade. Certo, certo, foi ter sido eu a pintar a cruz da Ordem de Santiago no gibão do artista. Perdi o combóio e perdi-te a ti para sempre, reflectida no espelho da minha ansiedade e na distância que me separou também desse quadro que nunca cheguei a acabar.

1 comentário:

Anónimo disse...

http://sorisomail.com/img/ruth-marlene_5021.jpg