quinta-feira, 12 de novembro de 2009

História

Tudo é história. E faz-se história com tudo, de tudo. Por isso sempre gostei imenso de história, era a disciplina em que tinha sempre as melhores notas, porque sempre achei que é de história que tudo se faz e se sente, se partilha, se ama ou se odeia, e que é através dela que vão fluindo os sentimentos mais contraditórios, os ditames mais díspares, e que é da história que se tiram
as mais delirantes, intrigantes e fantásticas conclusões e ensinamentos.
Sempre gostei de História, da Universal, da de Portugal, e até da minha própria história gostei sempre imenso. Porque eu também tenho a minha história, feita de amores e desamores, de afirmações e incongruências, de lutas, umas ganhas outras perdidas. Uma história onde no entanto houve sempre uma constante: o Amor. Mas como não me chamo Ovídio, nem escrevi a Arte de Amar, apesar de amar sempre muito, nem sempre soube amar sabiamente, como dizia a grande actriz do meu tempo, Ava Gardner. Mas mesmo assim fui fazendo a minha história, e assim a fui enchendo de histórias, umas boas, outras menos boas e até de histórias más. Mas se não fosse assim também nunca teria feito a minha História, nem sequer haveria História e eu apenas tinha passado pela História. Não, lá que a tenho vivido, isso tenho. Tem passado, tem presente e espero sempre ir a caminho do futuro, mesmo que tenha de cortar Nós Górdios, atravessar Rubicões, e gritar Talassa ao ver no mar a minha salvação para poder continuar a minha História. E nunca me perdi no tempo, nem nunca deixei que ele simplesmente passasse por mim, como um cometa que passa uma vez e a outra já é na eternidade. E gosto do meu passado, tantas vezes controverso, incompreendido, ucrónico. Porque o meu passado é a certeza do meu presente e a esperança no meu futuro. Sou como uma nação qualquer, que se não tem passado, não tem presente, não o é, simplesmente. Embora me vá dispersando ao longo do caminho vou estando sempre aberto ao espanto. Aliás sempre achei que era de seguir a frase de Rumi, o célebre poeta persa do século XII: " vende tudo e compra espanto". E continua a ser com espanto que a minha história se vai fazendo, com espanto que me continuo a apaixonar, com espanto que choro sempre que olho um Filho ou um Neto, que sinto a ajudarem-me a continuar a fazer História. E neste ir sendo palco e actor da História que vou fazendo vou continuando a contar histórias, sobre a História que vou sendo. Já o grande Schiller disse que "até os deuses lutam em vão contra a estupidez". Tantas vezes lutei! Tantas vezes saí derrotado, mas sou um homem de Fé e por isso, sempre que chego ao cimo de uma montanha, continuo a subir, porque, como dizia o Fernando Pessoa, "o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta". É como a História, ou esta história que aqui ponho para continuar a minha História.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pai,
Recordo tantas vezes a citação que faz no ínicio do seu primeiro livro a Decadência do Sonho "Quando chegares ao cimo de uma montanha, continua a subir". Também eu, farto daqueles que se ficaram num primeiro patamar da montanha e aí ficam à espera que num golpe qualquer de sorte alguém suba por eles, continuo a subir a minha montanha. E nestes dias enquanto tenho ouvido aquelas inspiradoras notas de Theodorakis (daquele CD que lhe falei há dias) também me sinto a subir uma qualquer montanha que não sei bem qual é. Sinto no entanto que me vai levando para qualquer lado, talvez para onde consiga entender certas coisas que neste mundo me fazem quase perder a vontade de continuar a subir. Mas não... Apesar de tudo quero mesmo continuar a subir, talvez na esperança de no cimo um dia ter Deus a olhar-me face a face.
Beijinhos