domingo, 1 de novembro de 2009

Fingi

Fingi acreditar em tudo à minha volta, que tudo o que me diziam era verdade, e a verdade estava naquilo que me diziam. E fingi continuar a fingir, enquanto tentava perceber se a verdade eras tu, ou se a verdade era apenas aquilo que me dizias.
E comecei a sentir-me dividido, mais do que entre ti e mim, comecei a sentir-me dividido entre a terra e o céu e o ar que me falta quando te olho e sinto.
E a não ser só da terra como os homens, nem só do mar como os peixes, nem só do ar como as aves. A ser a soma das parcelas e o total desses elementos num só, que és tu.
Mas descobri, bem no fundo de mim, que quando choro impossíveis, sinto-me da terra e do mar e até do ar quando consigo sair de mim e por fim te respiro.
E do olhar com que te olho, vejo cores, oiço sons e escrevo palavras sem nexo, como é sem nexo todo este ter-te sem te ser, sendo apenas de tudo o que perdi, o resto.
A verdade é que sou um eterno prisioneiro, fechado a sete chaves, pela terra que tenho debaixo dos pés, e pelo ar que ciranda á volta da minha cabeça sem norte. Só me liberto, quando mergulho nas ondas do meu sentir e fico com o mar todo dentro de mim.

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