domingo, 1 de novembro de 2009

Diferente

Sou diferente. Gosto de ser diferente. Há muito que embarquei nesse barco sem destino, nessa aventura de ser diferente, em "As Aventuras da Diferença", como lhe chamou Gianni Vatimo, o filósofo italiano publicado em Portugal na Biblioteca Filosófica das Edições 70. E por isso choro. Às vezes. Tantas vezes! Porque não existe um conceito que possa ser predicado de todos os outros conceitos, neste pensamento que se pensa a si mesmo, e vou lendo Aristóteles, o Estagirita, sempre a oscilar entre o idealismo e o materialismo, e se choro é pela verdade, pela beleza, pelo bem e pela unidade. E a música toca dentro de mim a Valsa Triste, de Sibelius, o adagieto da 5ª sinfonia de Mahler, o concertino para guitarra e orquestra de Bacarisse. E a música invade-me de cor, possui-me de beijos, por ti, meu Amor. E é com pinceladas de cor, que encho a tela de te sentir, e sinto a harmonia das esferas, a rasgarem-me a alma num suspiro feito do azul dos teus olhos.

2 comentários:

Paula Abreu Silva disse...

Também eu sou diferente, não especial, mas simplesmente diferente. Desde sempre que assim me sinto ... viajante intemporal de um destino único, de uma aventura sem igual entre tantas outras.
Se gosto de ser diferente, perguntas tu ?
Sim, gosto !
Se sou feliz assim ?
Muitas vezes. Mas são inúmeras as alturas em que sofro e choro. Incompreendida num mundo no qual imperam o materialismo, as convenções, o moralismo, a hipocrisia ! A razão e não o coração. O corpo e não a alma. A aparência e não a essência.
Entristece-me saber que pertencemos a uma sociedade transformada num mercado de tédio, sem poesia e sensibilidade, em que somos constantemente avaliados pela marca da embalagem e não pela qualidade do conteúdo.
E por isso viajo para bem longe ... viajo pela arte de ler. A realidade é dolorosa e imperfeita e magoa, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Descobri então que nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe.
Mas ainda assim, e apesar das lágrimas vertidas, nunca deixarei de amar as coisas mais simples; de fazer de cada aurora um momento de meditação; de considerar o orvalho da manhã como pérolas anónimas que por instantes aparecem e logo se dissipam, sendo apenas notados pelos seres sensíveis e até de despedir-me da Lua como quem se despede de uma amiga.
Enfim, nunca deixarei de ser eterna sonhadora, poetisa da vida e arquitecta de belos castelos no ar.


Já tinha imensas saudades das suas belas e inspiradoras palavras. Fico muito contente que tenha voltado a publicar no blog.

Bjinhos,
Paulinha

jose manuel arrobas disse...

Paulinha, quando é que nos encontramos e conversamos um pouco sobre a vida, as diferenças, o tempo? Gostava muito, acredite. Estas coisas de falar por máquinas já não são bem do meu tempo.
Beijinhos
Zé Manel