sábado, 18 de outubro de 2008

A ultima mensagem do meu Pai antes de voltar a Portugal

Meu muito querido e adorado Miguel

Tem sido assim que tenho começado todas as cartas que escrevo a cada um dos netos no dia em que é baptizado. Também acabas de ter o teu baptismo. Um outro. O de fogo: depois dos exercícios e treinos, a batalha. Que ganhaste.
Devias ter sido recebido em França com música de Claude-Achille Debussy, se possível com a peça a que ele chamou "Diálogo do Vento e do Mar", e, de regresso a Inglaterra com os acordes de uma das marchas de "Pompa e Circunstância" de Edward Elgar.
Amanhã, em Lisboa, deviam estar no aeroporto todas as chamadas Forças Vivas da Nação, que alem de te darem a medalha de Mérito Desportivo te deveriam dar a Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração Portuguesa, que só se deve dar a um verdadeiro Herói, e, claro, com o Hino Nacional em fundo. Ou, como apaixonado que és por música barroca, talvez uma tocata para cravo, do português Carlos Seixas, e uma tocata, porque é uma das formas musicais que deve ser interpretada por um só músico, já que também foi sozinho que ganhaste a tua batalha.
A dar chutos numa bola, há milhares pelo mundo fora, centenas em Portugal. Mas tu fizeste o que muito poucos fazem no mundo, e, em Portugal, só um:TU.
E só espero que os nossos que estão nas Olimpíadas, saibam de ti e isso os faça redobrar as forças para também ajudarem a tornar Portugal, Maior.
Mas também sei, como teu Pai, que embora me possa apetecer pedir o Mundo para o meu Filho, o meu Filho é suficientemente Grande e Humilde para não querer nada disso e lhe bastar o Amor de Deus e o Carinho e o Amor de todos nós que também o amamos tanto. Haverá medalha maior que a de ter no peito a da "Ordem do Amor"? Sabemos, na nossa família, que não. E todos nós sabemos que foi por Amor que venceste e te venceste.
Sei que duas Associações recebem contributos teus, pelo esforço que fizeste. Obrigado meu Filho por saberes dar, por te saberes dar, e, tal como o poeta Carlos Queiroz pergunta no começo de um dos seus poemas, "Menino, queres ser meu Mestre?", também eu faço a mesma pergunta, disposto como estou a continuar a aprender contigo, como fiel admirador e discípulo.
Continua a ser o Homem que tens sido, porque como alguém disse "primeiro sê Homem e depois sê Anjo".
E como na letra de um um fado, "e se não fosse pecado, queria-te mais do que a Deus".

Mil beijos, meu Querido

Pai

1 comentário:

ligia-mãe do Nuno disse...

Ontem, estive consigo.
Falámos, falei pela 1ª vez com alguma liberdade - porque essa também precisa de ser sentida, para poder ser liberdade. Talvez, por isso, me tenha falado no seu blog - como psicoterapeuta, ou, por alguma percepção de comunhão nestas formas de estar e pensar a vida.
Corri para o Nuno me dar o seu blog e aqui estou a absorver as suas palavras.
Afinal não sou só eu ...pensei eu...

Esta carta de pai, fez-me cair as lágrimas uma a uma bem saboreadas...

E não acho ser pecado( se pecado houver) "querer mais a um filho do que a Deus" pecado seria o contrário...

Lígia - a mãe do Nuno