sábado, 18 de outubro de 2008

1ª carta ao Miguel

Chegou a altura de eu por no meu blog cartas que eu escrevi ao meu querido Miguel, quando ele quis e conseguiu ser um herói ao ser o primeiro Português a fazer a travessia do Canal da Mancha a nadar. Com os desvios de ventos e marés fez 42 Kms o que é de facto um feito para a história da aventura em Portugal.
Assim, aqui ficam as cartas que lhe fui escrevendo em Agosto de 2008.


Meu adorado Miguel 

Portugal e Mar não rimam mas foi desde há muito o grande poema da nossa longa História. E se foi deste Porto do Graal, que os portugueses partiram um dia para dar novos mundos ao mundo, é do teu porto interior, que mais uma vez vais partir, e vencer, cabo que és de ti próprio, os cabos tormentosos para que leves a cabo a vontade de chegar.

"Falta cumprir Portugal", dizia Pessoa na Mensagem. A ti, meu adorado Filho, falta cumprir a Mancha, não a de Cervantes, pois não vais investir contra Moinhos de Vento, mas contra as ondas do mar, embora leves a acompanhar-te a tua Dulcineia.

E o Mar vai ser teu companheiro durante 10 horas, dez unidades de Tempo, que será o tempo que o Tempo te vai dar para fazeres mais uma conquista ao Mar de Tempo que tem sido a tua vida a Amar. O Mar. A Vida. O Tempo.

E lembro-me de quando Xenofonte com os seus dez mil homens, ao verem o mar, gritaram thalassa! thalassa! E a vitória foi chegar ao mar.

E thalassa! ficaremos todos nós a gritar, enquanto os nossos corpos cansados de te ver a nadar, se deitam nas areias da praia do nosso reencontro, para te dar o beijo da vitória, e te por na cabeça a coroa dos louros da conquista.

Uma aventura. A da diferença. A mais diíicil. Tanta gente a fazer tantas coisas. Tão poucos, tu, a fazer esta. Só esta, no esforço Olímpico de quem se vence para vencer o mar que o defronta.

O mar da vida, também tantas vezes adverso, mas que tens sabido domar, e o mar de Esperança que levas dentro de ti para nunca mais largar.

O mar da vida e do amor, o mar capaz de te fazer vencer a montanha, de te fazer chegar lá a cima, e continuar esquecendo a dor.

Sempre a Amar! Sempre o Mar!

Um beijo, meu adorado Miguel, do tamanho desse mar, do tamanho desse sonho que andas há tanto tempo a sonhar.

Do Pai que te ama muito"

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