quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Quadros/pinturas

Modesto Mussorgski tinha um amigo, Victor Hartmann, pintor e arquitecto que morreu enquanto uma sua exposição decorria. Em honra do amigo, Mussorgski compôs a célebre suite para piano, "Quadros de uma Exposição".
Eu não componho nada para os meus amigos que pintam, mas escrevo, e agora resolvi pôr aqui vários pequenos textos que escrevi sobre quadros em exposição, sobretudo pintados por um amigo de quem gosto muito mas não só dele.


V. E. consegue dizer a pintura e o desenho, como só ela, criando um alfabeto de imagens e símbolos, mas também de palavras, muitas vezes invertidas, desconstruídas, onde se pode ler a angústia perante o corpo interdito
Esse "locus infectus" da tradição, e a "virgo non intacta" que é nestes trabalhos feito de ansiedades e sonhos perdidos, feitos de sonhos por conseguir, feitos do que por fim alcançam : o traço que cria, que imagina e simboliza, que sente e faz sentir uma alma que procura.
Depois vem a cor, quase sem cores, no fundamental, primordial preto e branco, deixando o verde e o encarnado para o mais fundo de uma semiótica, que transporta em si mensagens para serem interpretadas por quem, na impossibilidade de simbolizar, diaboliza.
Ao definir com este alfabeto, emoções e sensações, que no fundo têm a ver com todos nós, V.E. consegue transmitir uma inquietação criadora, que nos faz pensar em como ser de outras formas, formas ao nosso alcance mas de tantas formas reprimidas.

Sem comentários: