sábado, 2 de julho de 2016

E o peso . . .

E o peso que em mim pesa e me esmaga, ao esmagar-me a tristeza em que me sinto perdido, neste sentir-me ao mesmo tempo que não me sinto, em jogos de luz e de sombra, piloto que não sabe corrigir a rota e se perde no oceano imenso, a sentir-se imenso como ele. E fico sem saber se sou sendo, se é não sendo que sou.
E a tua cara recortada no escuro da noite, vem ter comigo, ao encontro do beijo que tenho para te dar, tacteando juntos a vida que tentamos viver e amar.
E na caverna das sombras, vejo-me a passar lá ao fundo, feito imagens de mim, que no entanto não conheço, difusas e ao mesmo tempo claras, nesta estranha forma de me sentir, e em que me sinto a ser sempre tudo o que não sou.
E canso-me de verdade, na procura da verdade que só encontro no meu cansaço. E esqueço-me de mim, e de ti, e sou apenas um ser em movimento, em busca da minha incerteza, feita de passados sem tempo, nem história, que nesses tempos possa caber.
Sinto-me um homem das cavernas à procura das cavernas que há nos homens. E então pego num cavalete e vou para o campo pintar, ou fingir que pinto, expressionista primeiro, dadaísta depois a querer imitar uma nova objectividade, numa arte degenerada, numa pintura arcaizante em que me inspiro nos mestres antigos, e em que por fim me pinto, sem peso, como que a levitar por cima de mim e do que pinto.

Sem comentários: