segunda-feira, 23 de junho de 2014

Outros deuses

Outros deuses se enamoraram por mim, mas eu com medo de lhes desagradar, refugiei-me a um canto de mim, que é a minha loucura, e fingi que não os entendia.
Foi assim que consegui sobreviver, eles a pensarem que eu me sentia por eles amado, e eu a deixar-me amar por eles egoisticamente, não lhes dando nada em troca, cobardemente amedrontado de poder fazer alguma coisa de que não gostassem e eu não soubesse lidar com a ira que neles poderia desencadear.
Mas um dos deuses salvou-me. Deu-me um beijo com um sabor intenso a memória, um sabor a morte, e assim fiquei liberto para sempre de fugir ao amor que outros deuses me queriam dar.
Sei que não o compreendi, na imensidão do meu sorriso triste, mas foi quando encontrei a ternura do teu olhar.
E a ventania enrodilhou-me os pensamentos e flocos de neve caíram e envelheceram-me a alma.
Parti então não sei para onde nem levado por quem. Parti, sei que parti, e quando dei por mim era um pássaro que voava muito alto e donde pude ver a pequenez do mundo.

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