segunda-feira, 3 de junho de 2013

É escuro por natureza

Cheguei cedo a Cascais. Tinha a manhã cheia de pessoas para ouvir e tentar compreender. Mais, tentar fazer com que se compreendessem a si mesmos, o que muitas vezes é muito mais difícil.
E voltei a ter que que me purgar dos meus fantasmas, de sacudir de vez a madrugada que teimava em me manter agarrado a ela, numa espécie de ciúme. Em boa verdade tinha dormido com ela ! . . .
E lembrei-me das tragédias gregas, sobretudo daquela primeira a partir da qual se escreveram todas as outras durante séculos.
Lembrei-me de Ansia e Abrocomes, os dois adolescentes que se amaram sem permissão, e senti-me mais uma vez a ir às origens de tudo o que tem sido amor sem esperança.
Onde começa o mal, essa teodiceia, que me remonta às origens da minha própria vida, às origens deste ser capaz de me fundir com os outros para encontrar o fio condutor que me leve a vêr claro, o que na realidade e por natureza, é escuro.
Cheguei cedo a Cascais e perdi-me por ruelas que inventei até ir parar a um beco sem saída, onde acocorado estava o que de mim restava depois da madrugada onde também tinha amado sem esperança.
O meu lado escuro é o que de mais claro tenho sempre dentro de mim.

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