sexta-feira, 1 de março de 2013

O meu dinheiro

O meu dinheiro, nesta idade, já só me serve para comprar as memórias que fui espalhando pelo tempo. Ou para comprar as histórias com que me fui vendendo durante a vida, e que agora, ando por aí a tentar  comprar, para que voltem a ser minhas, nas lojas de velhos onde só se vendem coisas antigas, perdidas, esquecidas.
Mas foram essas histórias que me fizeram crescer, e foi a crescer que fui fazendo a história das minhas memórias. De agora. Deste momento que passa. Neste tempo que passou e não me deu tempo de o agarrar. E acabou.
E viajei por dentro de um peregrino, e depois lavei-lhe os pés, e beijei-lhos, como quem beija a terra, aquela terra que anda sempre dentro de mim, a terra donde vim, a terra para onde irei voltar um dia.
Depois olhei o peregrino bem nos olhos, e vi neles a inteligência a brilhar e a dizer-me que sim, que tinha encontrado por fim a minha "via crucis", para poder então subir ao meu Gólgota e poder descansar da vida. De mim.
Mas estou falido. Já nem sequer tenho dinheiro para comprar dinheiro. Perdi todo o meu dinheiro e as minhas mãos ficaram vazias, sem nada.
Só mais tarde, é que apenas pude comprar um pouco de vento, pelo que acabaram por não me cobrar nada e parti então com ele, deixando que o vento me levasse tudo, menos a esperança.
Estava um dia lindo, e fiquei apenas com a alma cheia de bom tempo.

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