domingo, 18 de novembro de 2012

Fui ter com o mar

Fui ter com o mar, aliás com quem sempre me dei bem, mesmo ainda antes de ter nascido. Conhecemo-nos desde que houve aquele feliz encontro, à esquina do dentro que me gerou, e começamos a ser inseparáveis um do outro, ao ponto, de eu pensar muitas vezes que foi a partir daí que comecei a ter obsessões, paixões desenfreadas, prazeres inconfessáveis, de me deixar ficar assim, aninhado a quem me dava tudo, e por quem eu me dava todo.
E fui crescendo, primeiro durante aqueles primeiros meses de intensa e dependente paixão. Depois nasci, já mais crescido e mais liberto desse pathos que acaba sempre por ser philia e depois eros e só por fim agapê.
Isto para te contar que este meu amor tão antigo como eu, continua a ser o sal que as minhas lágrimas choram quando de alegria te beijam o amor, meu amor. Porque tu és o mar da minha inconsciente consciência, com quem converso horas a fio, e ponho em verso, o mar e a cor dos teus olhos onde um dia mergulhei numa busca inacabada pela Atlântida dos nossos sentires.
Sabes meu amor, dizem que uma triangulação amorosa é impossível, mas repara como se enganam, e como nós somos diferentes a viver esta geometria a três. Quanto muito não se lhe poderá chamar euclidiana, mas de Hilbert ou de Riemann, meus amigos de infância, só porque já sonhava com eles sem saber, e sem saber sequer absolutamente nada de geometria.
Mas meu amor, neste nosso amor a três, passamos bem sem qualquer deles, porque no fundo continuam a basear-se nos 21 axiomas, e se pegarmos em 21, e somarmos, como tenho a mania, 2+1 temos o três. Não é que nós saibamos muito, eles, esses quase todos que vivem à nossa volta, é que sabem pouco, muito pouco meu amor. E como disse depois Bessel "enquanto o número é produto exclusivo do nosso espírito, o espaço tem uma realidade para além do espírito, cujas leis não podemos prescrever completamente".
Uma coisa não sabem de todo em todo, porque nunca lhes disse nem penso alguma vez dizer: os teus olhos, meu amor são esse mar onde nasci e onde tu nos continuas a alimentar, amnioticamente ou não,  até morrermos. Sim, meu amor, até morrermos, porque sem ti, sou quanto muito um mar morto, onde ninguém consegue sobreviver.
Nem eu.

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