domingo, 4 de dezembro de 2011

Nasci

Nasci do vento e da espuma, quando se encontraram e se amaram numa anfidromia qualquer, no mar alto, enquanto Claude Debussy compunha o "Diálogo entre o Vento e o Mar".
À noite, as estrelas vieram iluminar o meu olhar inquieto e tive como madrinha a lua ao som do "Clair de Lune".
Depois comecei o meu peregrinar, pelo mundo de mim, às vezes sem luz nem esperança, outras vezes com a certeza de que era eu a nascer todos os dias, para todos os dias sentir em mim o que a vida me ia dando. Mas não me dava um padrinho!
Depois, cheguei até hoje, esquadrinhando o passado, olhando para trás, convencido de que quanto mais caminho tinha percorrido, mais caminho tinha ainda que percorrer.
Depois . . . sentei-me aqui a escrever estas linhas e a ouvir o "Canon", (de seu nome completo, "Canon e Giga em Ré para três violinos e um violoncelo"), escrito por Johann Pachelbel no fim do século XVII, e a pensar num filme de que me tinham falado, com esta música, de um realizador que não conhecia, José Luís Garci, o "Voltar a Começar". E senti-me também eu a voltar a começar. E nasci. E tive por padrinho, Pachelbel. E fui o único violoncelo.

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