terça-feira, 1 de novembro de 2011

Meto-me pelas cidades

Às vezes ponho-me a andar pelas cidades, pelas vilas e até pelas aldeias do meu pensar. Mas nunca soube bem à procura de quê, nem porquê. Meto-me por praças e betesgas, por becos sem saída e por azinhagas dos arredores onde antigamente se era assaltado, e vou apanhando coisas do chão, abandonadas, perdidas e sem qualquer préstimo, numa vagabundagem de mim, e vou encontrando nelas fragmentos de coisas que já foram minhas, pedaços de pensamentos de que já me tinha esquecido, e vou formando com tudo isso palavras, e olhares, como se pintasse as peças de um puzzle com que ainda me lembro de ter brincado em criança. E consigo pintar tudo, pintar até os sonhos que nunca cheguei a sonhar. E dou comigo a pintar o teu olhar.
E depois sinto que construo um sonho de que já não me consigo lembrar. E depois sonho tudo isso ao acordar. E depois continuo a andar pelos becos e pelas azinhagas da minha vida por encontrar. E depois, e depois, acabo sempre por me perder nesse beijo que nunca te consegui dar.

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