sábado, 26 de novembro de 2011

Falido

Sinto-me cada vez mais falido. Não só  -  mas também - porque me sinta com mais ou menos dinheiro nos bolsos. Com isso, ou sem isso, vou vivendo, mas é porque sobretudo me sinto a ter cada vez menos ideias, para dar uma volta neste mundo tão vazio e tão hipócrita. Tão pequeno!
A minha falência é essenssialmente interior, é uma falência de espírito, é o não conseguir arranjar maneira de suportar a pequenez que me rodeia. Que me asfixia.
É verdade, cada vez tenho menos ternura na carteira e beijos para dar, nos bolsos. Cada vez mais o Banco dos Sentimentos,  me dá menos crédito. Quanto vale hoje em dia, um sorriso, um beijo, um abraço? Tem-se vindo tudo a desvalorizar tanto, imenso! E quem guarda esse tipo de valores nos colchões lá de casa, sabe que nenhum seguro lhe cobre o fogo que os fizer arder nem ao dono que, com o incêndio dessas preciosidades, acabe por morrer de frio.
Qualquer Banco dos Sentimentos acha que só um louco varrido quererá guardar esses valores num cofre que lá queira alugar, e portanto não muito digno de confiança. E infelizmente tem razão. Eu sou um dos que só pode guardar lá disso. Cada um tem o que tem e por isso estou falido. E ainda se eu fosse um louco varrido para debaixo de um Aubusson, ou de um Goblin, de um bom e bem antigo Arraiolos ou de um colcha de Castelo Branco que tenha estado na cama de uma abadessa aristocrata . . . Mas não, o que eu tenho guardado num cofre que trago sempre dentro de mim, já não vale nada.

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