segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Vou Vivendo

Vou vivendo nesta procura constante, incansável, de me conseguir manter vivo. E nunca sei se viver é ir levando todos estes anos às costas, como se a vida fosse um saco, onde me vou metendo, aninhando, enquanto oiço lá ao fundo, onde começa o fim do tempo, as trombetas a tocarem um requiem pelo dia em que não houve mais tempo.
E vou vivendo neste engano, nesta "Floresta de Enganos" como lhe chamou Gil Vicente, olhando atentamente para as palmas das minhas mãos, quiromante feito à pressa, a ver se percebia onde iam parar as linhas de um surrealismo só meu, onde ia vendo desenhos de Grandville e ia pensando que a vida, de facto, é um sonho, tantas vezes bizarro, mas um sonho.
Depois peguei em Albert Camus e comecei a ler o equívoco, e senti-me um estrangeiro, a fugir da peste, e numa imparável queda, pelo Atlas abaixo.
Depoi fugi da Argélia e lá fui vivendo mascarado de cartaginês e com um saco às costas, pesado, porque dentro dele levava a minha vida.

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