segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mais uma coisas que fui escrevendo

E ele respondeu-me:
Sou um romântico de pechisbeque, uma partícula do que realmente gostaria de ser, ou de ter sido, e que até consegui ser, em certa medida, mas noutros tempos, há muito tempo. Raspo o ouro, da aparência, e o que aparece é de facto um pouco de zinco e de cobre. Mais nada.
Sabes, continuava ele, sou uma imitação de mim mesmo, uma caricatura, uma fraude. Um aproveitamento que faço, e bem, confesso, da estupidez humana.
Mas é disso tudo que também faço a minha obra de arte, e, apesar de tudo, sinto que essa arte é a minha forma de ver Deus, e, como para mim, tanto a Arte como Deus, são duas coisas invisíveis, só as posso sentir! E sinto, à minha maneira! Isso sinto! Acredita. E é a sentir tudo isso que eu próprio sou Arte.
Foi quando me lembrei de Giovanni Papini, em "O Livro Negro", naquela entrevista que ele faz a Picasso e onde este lhe diz que, e cito, "verdadeiros pintores foram Giotto e Ticiano, Rembrandt e Goya: eu não passo de um "amuseur public", que compreendeu o seu tempo e explorou, o melhor que soube, a imbecilidade, a vaidade e a cobiça dos seus contemporâneos. É uma confissão amarga, a minha, mais dolorosa do que lhe poderá parecer, mas tem o mérito de ser sincera".
"Et après ça, concluiu Pablo Picasso, allons boire".
Também eu fui beber um copo com o meu amigo, feliz por ter um amigo capaz de se abrir desta maneira comigo. A sinceridade com que me falou, fez com que eu o tivesse começado a amar muito mais.

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