segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mais textos de dias sem datas

É curioso como levo anos a pensar e a amadurecer coisas dentro do meu peito, que depois sou capaz de fazer apenas em alguns minutos.

Quando escrevo e crio alguma coisa, sinto que me procuro e que quero ir um pouco mais ao meu encontro. E depois escrevo mais para poder fazer as pazes comigo, e passo a gostar um pouco mais de mim, só porque fico um pouco mais insatisfeito.

Quando era mais novo gostava imenso de tirar fotografias, e de ficar com recordações de pessoas ou de coisas que me tinham acontecido. Mas no fundo, o que eu sempre quiz foi ficar só com as películas e nunca as revelar. Bastava-me lembrar-me do que me tinha acontecido.
Acho-me mais parecido com elas porque sei que sou só, e apenas, um negativo de mim.

Se o observador deturpa aquilo que observa, diz a física, quem escreve também deturpa o que escreve ao deturpar o que pensa que quer escrever. Escrever é deturpar o pensamento, é querer metê-lo nas palavras. E sinto que isso é de facto impossível.
Se calhar escrever não é senão desafiar o impossível. O que dirá a física? Mais uma coisa que eu não sei.

Há pessoas que vou conhecendo aqui e ali, e que são sempre muita gente ao mesmo tempo.
E depois percebo que afinal não encontrei ninguém, quando descubro não serem nada do que pensam ser. Falam, gesticulam, umas vezes choram outras riem-se descontroladamente. Mas
quando depois olho para as minhas mãos à procura delas, estão vazias e só consigo ver uma multidão, onde ninguém é tudo e todos me parecem ser o nada.

Às vezes penso que as pessoas engordam, não com o que comem mas com o que pensam ser na vida. Algumas chegam a ser grandes e a ficar na história. Acham-se imensas, olhando à sua volta de cima do seu metro e qualquer coisa de altura.
No entanto penso que só se consegue ser imenso quando se morre. A morte sim, é imensa.
Pelo menos nunca conheci ninguém que já lhe tenha descoberto os limites.

Quando eu morrer resta-me a consolação da vingança de saber que a minha morte morre comigo. Arrasta-me, mas eu também a arrasto, a ela. Sei que não vou sozinho, como dizem os bêbedos depois de beberem muito vinho. Eles vão acompanhados pelo álcool, eu vou acompanhado pela vida que vivi e que só a morte me pode tirar. Mas ao tirar-me a minha vida também me tira a minha morte, porque a verdade é que nunca mais me vê morrer.
Tudo se acaba e então sim, sei que fico eternamente sozinho comigo mesmo. Mais nada.

São tantas as vezes que me sinto rodeado de pessoas, e ao mesmo tempo terrivelmente só. Até podem haver por lá alguns amigos, mas é difícil que algum seja íntimo. E é só essa intimidade, essa cumplicidade, esse gosto em nos sabermos juntos que penso ser a amizade.
Amigo é uma palavra mais do que estafada. Amigos há poucos. Tenho poucos. Conheço é imensa gente.

Quando não me sinto amado, sinto-me póstumo, e acabo por me esquecer de mim, lembrando-me apenas, e às vezes tão obsessivamente, do que não fui, do que nunca consegui ser.
E quando tomo consciência de que não consigo ser, então é porque já estou morto, mesmo sem o conseguir perceber.

Este rio que sou eu sempre a viver, como um rio sempre a passar, precisava de ser como o vento, e saber, de vez em quando, parar.

Há sempre pessoas com quem sinto que posso fazer bons negócios. Basta-me comprá-las pelo preço que valem e depois vendê-las pelo preço que julgam valer. É dinheiro em caixa!

É quando mais me pergunto quem sou e o que ando para aqui a fazer, que mais dou comigo a sonhar.
E sempre que sonho e depois me consigo lembrar do que sonhei, aproveito para aprender qualquer coisa, mesmo o que já sei.

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