segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mais se data. Apenas dias.

Esta noção que me dá esperança e paz, de que quanto mais sinto a minha dimensão temporal e finita, mais me sinto na necessidade de fazer alguma coisa que fique, para além do tempo, faz-me pensar nos limites que a minha condição humana me impôe, e faz-me querer viver de olhos postos em ti, meu amor.
De certo modo o olhar-te assim já é uma forma minha de me eternizar. E os Filhos, e os Filhos dos Filhos já são muito isso, porque nasceram desse teu olhar quando se encontrou com o meu.
O resto, o que escrevo, são bilros que uma velhinha me ensinou a fazer, rendilhados que faço para ornamentar tudo isso. Adeus. Um beijo.

Sempre que escrevo e pinto (hoje já só pinto a imaginar-me a pintar), amo mais, e vejo que isso é verdade porque fico inconstante e inquieto.
As letras e as cores são apenas os gestos com que te aceno a despedir-me. Da vida.

Gosto de ler, ouvir música, aprender. E descubro sempre o que já sei, o que já li, ouvi e aprendi sem ter percebido o que me estava a acontecer.
A verdade é que às vezes penso e sinto, que o meu mundo é já muito antigo, pelo menos tão antigo como o tempo, o que me dá a sensação de ter todo o tempo do mundo.
Mas os teus olhos vêm dizer-me que tenho os dias contados, um a um, pelos dedos da existência, pelos dedos de uma criança que ainda não sabe bem a tabuada.
Ou então, tudo não passa de uma vaga fantasia. Como a morte, em António Boto.

Perdi-me de ti e de mim. Perdemo-nos um do outro e de nós, neste procurarmos a esmo esse nós, que só pode estar bem dentro de um continente perdido, algures, e que se chama Nós.

Quando crio estou quase sempre mais mal humorado. Apetece-me transgredir, romper com as fronteiras do mundo e com as do quotidiano. Com as fronteiras que os outros me querem impôr. Fico birrento, indisciplinado, insofrido.
Depois penso que o adolescer é, quase por definição, transgressivo, e então sinto-me em fases por que já passei há muito tempo, quando era adolescente, e sinto que preciso de transgredir, de me indisciplinar, para acreditar que ainda continuo a crescer.

O paradoxo em mim, além de ser muitas coisas e haver dele várias definições, é este : por um lado, aceitar a morte de bom grado, mas por outro ter medo dela, só porque tenho contas para pagar ao banco.
De resto, penso que é só ter uma conversa de pé de orelha com Caronte e talvez ele me deixe passar o Estige sem ter que lhe pagar o meu óbulo.


Sem comentários: