domingo, 26 de junho de 2011

Coisas que vou dizendo e de que às vezes tomo nota

Leio livros que me ajudam a pensar. Que até me ajudam a ser. Só que depois, como não fui eu a escrevê-los, não consigo ter com eles uma relação de amor.
E tenho pena, tenho mesmo muita pena.

Isto de gostar de me sentir sempre bem no meu deserto
É a maneira que arranjo de estar sempre tão longe de ti
Como de ti estar sempre também tão perto
E de encontrar tudo o que procuro em ti dentro de mim.

A amizade é uma das coisas mais importantes que tenho na minha vida. É a minha obsessão, a minha eterna doença da procura. E nem quero que haja algum cientista que lhe encontre a cura, porque esta amizade que tenho pela amizade é o que me alimenta a vida, apesar de sentir que se calhar nunca me levará a parte alguma.
Sou amigo do meu amigo como se não fosse amigo de coisa nenhuma.

Às vezes dou comigo a discutir comigo imensas coisas. E devo confessar, que como já dizia Paul Valéry, nem sempre concordo comigo. Sou assim, eu e o outro, que se adoram mas também se odeiam.

Pela morte, tenho-me reaproximado de pessoas de quem um dia gostei e depois acabei por me afastar. Sempre o tempo, sempre o tempo empenhado em separar.
E fico a pensar quantas oportunidades perdi de as abraçar.
Ontem cheguei a casa e pus-me a ouvir as Gimnopedias do Sati, que um amigo meu me deu aqui há um bom par de anos. Lembro-me de que nessa altura as ouvia vezes sem conta no meu carro, e quando chegava a casa punha-me de novo a ouvi-las sentado no sofá. Depois deixei de as ouvir. Esqueci-me delas e esqueci-me dele.
Sinto tudo tão intensamente que acabo por não sentir. É como qualquer coisa que acaba por se gastar.
Se calhar, só quando um de nós morrer, nos vamos então voltar a ver. E nessa altura - estou eu agora aqui a pensar - vou pedir a alguém que ponha o disco para que eu possa voltar a ouvir Sati.




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