sexta-feira, 9 de julho de 2010

ESPEREI

Esperei. Esperei como quem reza ou como quem mente. Mas tu não apareceste, e foste tu quem me mentiu. E eu acreditei, como quem espera, como quem sente.
Depois parti em busca do tempo que perdi. E tu estavas nele. E eras tempo. E nunca mais me esqueci dos teus olhos, que guardaram o tempo bem dentro de ti.
Hoje não sei onde te meteste. Não sei sequer se te perdeste. Sei quem tu és, sei que te vi naquele fim de tarde, com o mar em fundo e uma música barroca dentro de mim a tocar. Encaminhei-me para o mar. A areia estava quente e a queimar-me o coração descalço. E esperei que o mar viesse suavemente até mim, com toda a sua imensidão onde sempre me perdi. E tu não estavas lá, nem os teus olhos me disseram mais uma vez que sim. Tu que foste sempre o meu irmão colaço.
E fiquei à beira mar, à beira tempo, na solidão de te ver partir, num barco que naquela altura inventei, para que fosse só nosso e contigo também pudesse ir. Mas o barco era frágil, não tinha velas nem leme. Era mais uma jangada cheia de loucos, que como antigamente, se esperava que se afundasse e a loucura de toda aquela gente se curasse.
Salvei-me no último momento, quando vieste ter comigo sem eu te ver, por trás de mim, e me abraçaste.
Foi quando deixei de esperar, e fiquei simplesmente à espera que aquele teu abraço nunca mais acabasse. E ainda hoje o trago sempre comigo, como se fosse um amuleto sagrado, uma reza, um destino. E deixei-me cair na areia, só, destroçado.
E soube-me a fim, quando vi que te tinhas esquecido de tudo, e até de mim. Mas mesmo assim, esperei, com a esperança de um desesperado.

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