quinta-feira, 6 de junho de 2013

E resolvi

E hoje resolvi ir para a rua vender os meus sonhos ao desbarato. Resolvi ser pródigo e esbanjar a esmo o que não me tinha custado nada a ganhar. Só a sentir.
Por toda a parte se ouvem pessoas a dizer que "fazem uma atenção" sobre o preço de base das suas mercadurias, e eu também entendi que podia baixar o preço dos meus sonhos. Pensando bem o que é que eu ganhava em ficar com eles só para mim? Um bocado assim como os segredos, que, de que é que valem se não houver ninguém que os conte?
Desci então ao cais e parti no meu barco sem vela e sem leme, e deixei-me levar simplesmente pelas correntes até encalhar bruscamente, depois de muitos outros sonhos, na ilha onde sempre guardei as minha emoções e os meus afectos.
E a minha solidão fez-se anunciar por música, e ouvi distintamente o "va pensiero sull'ali dorate", enquanto com a música me fui escoando e transformando a música em palavras que não disse.
E senti-me inteiro como a mais pura e necessária realidade, pois tudo me foi dado como tudo o que é divino.
E as minhas lágrimas escorreram e fundiram-se em bronzes antigos, sagrados, que me contaram histórias cheias de beleza, que ecoavam melodicamente dentro do meu peito, enquanto se diluiam em ritmos estranhos, em cores sem nome.
E resolvi recolher nos nervos e nos sentidos imagens de um Sol que lentamente se apagava com as lágrimas que eu não conseguia conter.

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