segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

No meu

No meu cemitério interior vou enterrando as minhas mortes de todos os dias, de todos os meus sonhos, de todas as perguntas que me faço e de que não tenho respostas. Vou enterrando as minhas mortes e as dos outros. E vou-me enterrando com elas sem saber que também morro.
E sinto que vou ficando com o peito cheio de cruzes e que às vezes me dá para as apanhar, como quem apanha flores, aos molhos, e que depois levo comigo, de um lado para o outro, à medida que vou conseguindo subir aos meus gólgotas interiores. E por lá fico, só, porque acabo por nunca encontrar os ladrões que esperava ter ao meu lado, sempre na esperança de que me roubassem a alma.
Mas ao menos vou encontrando pessoas que fui perdendo pelos caminhos da vida. Delas apenas me ficaram as cruzes com os nomes gravados, ora os de deus ora os do diabo, aqueles que afinal foram quem ao longo da vida sempre me guiaram.
E vivo neste labirinto onde todas as saídas são entradas, e todas as entradas são saídas, porque são jazigos, alguns já antigos, outro mais recentes, que alguém mandou fazer para neles ir guardando o que restava dos seus. E perco-me por esse labirinto, sem norte, sem oriente, e quanto mais me perco, mais me encontro, à medida que me vou cruzando comigo, nessas entradas e saídas que não me levam a parte nenhuma, mas que me espantam, com isto de a vida ser assim, feita destas coisas, em que eu sou quem mais se parece comigo, e sempre a ser eu quando me cruzo contigo.

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