quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A luz

Entrei na Igreja devagarinho, sem querer fazer barulho, quase a medo.
A luz ogivada, abobadada, com arestas e nervuras onde tudo se esbate, é só memória.
Nos vitrais as cores são as cores de si próprias, e o chumbo a colar os vidros, de vidro, fazem-me entrar numa vertigem estilhaçada de santos que foram homens, e de pessoas que só conseguiram ser santas. Mais nada. Entretanto, num cravo bem temperado, Bach ecoava por evangelhos que eu nunca tinha lido.
Quiz rezar mas não tinha onde. Estava tudo ocupado pela luz e por aquela música que me diluia no lajedo, nas colunas, nos portais das capelas laterais. Escondi-me atrás de mim, e só num cantinho mais escuro pude então chorar.

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