sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sentir-me teu

Ah! Como te amo, Amor! Como te amo! E tu sempre a duvidar!
Um dia vi-te, e é desde esse dia que me sinto permanentemente a acordar, para a vida, para ti de novo, e de novo, numa constante e obsidiante ânsia de te ter, sempre. De te ser, sempre, mesmo sem to conseguir dizer, por já nem conseguir falar.
Amar, amar, sem mesmo saber o que é amar. Como é amar. Amar só por amar, e nisso caber o Amor. Todo!
E os ventos embrulharam-me em espanto, num celofane só nosso, e fui contigo por caminhos que vou encontrando, descobrindo, e onde te encontro a ti também, a cada esquina do tempo, sempre tu, sempre azul como o céu que um dia encontrei escondido dentro do teu peito. Escondido dentro do teu olhar. Escondido, para que só dentro de ti eu o pudesse encontrar.
Dizer-te tudo isto? Mas como, se as palavras são tão pobres, e eu tão pobre de palavras? E de amor! Mas sonho! Nisso sou rico. Muito rico acredita. Sim, apenas sonho, um sonho de te acordar, para partirmos juntos, cedinho, pela montanha do nosso esquecimento, sempre a subir, sem parar, e só nos podermos lembrar deste amor que nos temos, e depois, lá bem no cimo da montanha, nos podermos amar, cada vez mais perto do céu, cada vez mais perto de ti.
Duvidas que te amo, só porque sou vulcão, só porque não choro lágrimas, mas escorro lavas, escoriáceis e quentes, tão quentes como o amor que tenho por ti. Mas também são lágrimas, da terra, da terra que também sou eu, a chorar, por ti.
E depois as lavas secam, vidram, e eu aqui e ali vou plantando bacelos de um vinho para podermos fazer e beber mais tarde, o vinho do nosso contentamento, da nossa embriaguês por nós, do encontro da verdade com o sentir, e sentir-te, nos olhares que nos damos, e que depois afago, com mãos de nada e de tudo, com as mãos com que te acaricio a cara e os sentidos, e as tuas mãos também, bem apertadas nas minhas.
E sento-me a escrever isto tudo, só para te poder ler mais tarde, e reler, e voltar a ler, sem nunca me cansar. E depois te poder beijar o espanto, que tens em espera, à espera que o dia se faça luz e por fim te possa encontrar, nesse pranto, de por fim me sentires teu, a amar.
Não, não guardo o que escrevo para te lembrar, porque um dia li a legenda de um soneto de Shakespeare que dizia "Guardar coisa qualquer para te lembrar / Seria o esquecimento confessar". E tu sabes que a ti sou capaz de confessar tudo, menos isso. Era mentir. Era mentir-te. E isso eu não sou capaz.

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