tag:blogger.com,1999:blog-71903647961631404802024-02-21T02:42:40.645+00:00Noite TransfiguradaO meu espaço de reflexão sobre a vida, a ciência, a religião, a poesia, a saúde...JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.comBlogger368125tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-52265952354805364102018-01-03T20:29:00.002+00:002018-01-03T20:29:25.414+00:00MaisAlguns desenhos de V. E. , transportam-me ao universo de opiómano de Jean Cocteau, pois nestes desenhos encontramos a busca do corpo vivido, mesmo se dissociado ou reduzido a uma dinâmica do espaço.<br />
Aqui o homem, ou as figuras humanas, são captadas pelo espaço sem espaço, de uma maneira neurótica, em que a dinâmica "oculta do espaço", dá um sentido ao absurdo.<br />
V.E. como que ilustra alguns dos temas de "A Nova Desordem Amorosa", de Pascal Bruckner, como por exemplo, "o esquife peniano no rio do amor" ou "os corpos incertos" ou ainda "a canónica quimera do orgasmo".<br />
Há a agressão, o perdão, a reconciliação, num jogo de linhas e de palavras, de gritos e de silêncios amordaçados, do desejo fálico transformado em oração. Há um não-lugar para o erotismo feito de espaços de diálogos entre as formas, entre os corpos que se abraçam e beijam ou simplesmente se olham.<br />
Tal como José Gil é considerado o "filosofo da carne" ( foi discípulo de Deleuze ), V. E. poderá ser a desenhadora da carne onde se descobrem as cicatrizes, cesuras como pausas ao fim do primeiro hemistíquio do verso alexandrino ou a última sílaba de uma palavra que começa o pé de um verso latino ou grego.<br />
E dou comigo a tentar encontrar uma correspondência entre o verbal e o visível, a debruçar-me sobre o fantástico na Arte e o erotismo. E apetece-me citar Ahmad Ashai " o paraíso do gnóstico fiel é o seu próprio corpo, e o inferno do homem sem fé nem gnose é igualmente o seu próprio corpo".<br />
Paul Klee "escutava os murmúrios que preenchem o silêncio . . . ", V.E., preenche os espaços que desencadeiam em nós e na nossa imaginação a frase de Merleau-Ponty, "ver, é sempre ver mais do que vemos".JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-1009912053424699592018-01-03T20:02:00.000+00:002018-01-03T20:02:25.689+00:00Quadros/pinturasModesto Mussorgski tinha um amigo, Victor Hartmann, pintor e arquitecto que morreu enquanto uma sua exposição decorria. Em honra do amigo, Mussorgski compôs a célebre suite para piano, "Quadros de uma Exposição".<br />
Eu não componho nada para os meus amigos que pintam, mas escrevo, e agora resolvi pôr aqui vários pequenos textos que escrevi sobre quadros em exposição, sobretudo pintados por um amigo de quem gosto muito mas não só dele.<br />
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V. E. consegue dizer a pintura e o desenho, como só ela, criando um alfabeto de imagens e símbolos, mas também de palavras, muitas vezes invertidas, desconstruídas, onde se pode ler a angústia perante o corpo interdito<br />
Esse "locus infectus" da tradição, e a "virgo non intacta" que é nestes trabalhos feito de ansiedades e sonhos perdidos, feitos de sonhos por conseguir, feitos do que por fim alcançam : o traço que cria, que imagina e simboliza, que sente e faz sentir uma alma que procura.<br />
Depois vem a cor, quase sem cores, no fundamental, primordial preto e branco, deixando o verde e o encarnado para o mais fundo de uma semiótica, que transporta em si mensagens para serem interpretadas por quem, na impossibilidade de simbolizar, diaboliza.<br />
Ao definir com este alfabeto, emoções e sensações, que no fundo têm a ver com todos nós, V.E. consegue transmitir uma inquietação criadora, que nos faz pensar em como ser de outras formas, formas ao nosso alcance mas de tantas formas reprimidas.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-78694478795126547522017-12-31T18:26:00.001+00:002017-12-31T18:26:38.050+00:00Contra a indiferençaHoje é o último dia deste ano de 2017, e como não sei se por aqui ainda volto a passar hoje, aqui fica mais um dos meus apontamentos, que registo num caderninho que trago sempre comigo, para depois, na primeira ocasião postar.<br />
E mais uma vez me sinto agressivo perante tudo o que me choca neste mundo imundo em que vivo, e me faz pensar que o facto de qualquer homem ser um ser pensante, criativo e social, não é apenas uma característica como podem haver muitas outras características, mas fundamentalmente uma condição, a tal condição humana de que já falou André Malraux.<br />
Depois há este meu estar sempre em luta contra a indiferença, contra a miopia dos olhares da gente pequenina de que tantas vezes me sinto rodeado, para que os meus esforços de ser diferente, não sejam esperanças abortadas, mas possa sentir sempre que quando piso o chão o reconheço sagrado, numa eterna sagração de uma primavera que procuro trazer sempre dentro de mim, para nunca me ver encurralado dentro dos meus próprios raciocínios, até te poder ver, bem à minha frente, a sorrir-me, mulher que tanto amo há tantos anos. E foi nesse teu sorriso que me deitei e descansei das minhas más disposições contra a indiferença e a miopia esperando não ter que me confrontar com muitas no ano que está a chegar.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-25134304511863118682017-12-30T23:23:00.000+00:002017-12-30T23:23:03.705+00:00Ad loca infectaUm dos meus sonhos é o de poder ir em peregrinação todos os dias a todos os lugares santos ou não. Fazer mesmo a minha peregrinação "ad loca infecta", gostando como gosto de ver tudo, experimentar tudo, ir a toda a parte e ser tudo de todas as maneiras. <br />
E nessa peregrinação ir só eu, levado por mim ao colo, dentro de mim, para por esses lugares me ir encontrando e à minha realidade. <br />
E mesmo quando por fim me fosse possível encontrar-me e à minha realidade, partir sem perder tempo para uma nova peregrinação, uma qualquer, porque a realidade não me satisfaz, qualquer que ela seja. <br />
E lembro-me daquele extraordinário pequeno poema de Reinaldo Ferreira e de que tu, meu amor, tanto gostas, e que diz<br />
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"Quando ao nada empresto<br />
A minha elementar realidade<br />
O nada <br />
É só o resto".<br />
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E fico a sonhar, porque quando estou a sonhar é apenas um dos meus sonhos que sonho. Nada mais.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-69609018013062488342017-12-30T23:04:00.002+00:002017-12-30T23:04:24.482+00:00Gostava de saberMuitas vezes dou comigo a pensar como gostava e seria bom de ser capaz de me exilar num país distante, que não pudesse ser encontrado em nenhum mapa, numa ilha perdida num oceano qualquer, longe de tudo e de todos.<br />
Mas amo, e amar é em si mesmo uma prisão, estou certo que toda feita de oiro e pedrarias, mas de onde não posso fugir de tal maneira estou amarrado a quem tanto amo. E não posso porque muito simplesmente não quero.<br />
Resta-me isolar-me dentro de mim, como se dentro de mim houvesse de facto a tal ilha, perdida, num oceano qualquer. E há, estou convencidíssimo que há, e onde eu posso como Jorge Luís Borges, jogar aos infinitos, só eu e tu, uma eterna paciência, sentados a uma mesa que guardamos sempre dentro de nós, sempre com o mesmo pano por cima, as mesmas cartas e oh! maravilha, sempre o teu sorriso que adoro, os teus olhos azuis que me enfeitiçam há tantos anos, e essa mão que com a minha joga esse jogo que nunca acaba porque também nunca começou. <br />
O jogo é esse, ser uma utopia, tal como a que Tomaz Morus imaginou a partir das descrições feitas por um navegador português chamado Rafael Hitlodeu, e que por não existir, não ter lugar senão dentro da sua imaginação - e agora só dentro da minha - e a que por isso ele chamou Utopia.<br />
Ao longo da História sempre houve utopias e muitas vezes foi através delas que o mundo se foi transformando, sendo outro mundo para que as gerações que nasciam pudessem também sonhar.<br />
Mas eu não sou utópico, mas ucrónico. Não preciso de espaço mas falta-me o tempo. Ou o meu tempo ainda não chegou. Não sei, mas gostava de saber.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-74547231725775723302017-12-30T22:16:00.001+00:002017-12-30T22:16:59.972+00:00Às vezes pensoÀs vezes penso que as pessoas deviam deixar crescer dentro de si o fogo da paixão, e depois, nesse calor, vivê-la, mesmo que isso implique dúvida, insegurança e até medo. <br />
A paixão é quanto a mim a matriz e a geratriz de tudo o que nasce para viver e Ser. De outro modo, essas pessoas são como as brasas de uma lareira: quando quentes aquecem, mas quando se deixam esfriar só sujam.<br />
É com pena que às vezes vejo as pessoas a não serem capazes de evoluir, de serem mais elas deixando-se embrulhar na vida. Pela vida, guardando sempre a distância que deverá sempre haver entre elas e a vida.<br />
Às vezes penso que há pessoas que são como aqueles pássaros de estimação a quem os donos levam a passear nos jardins. Os pássaros realmente mudam de paisagem mas não mudam de gaiola.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-20381159466006994262017-12-30T22:03:00.002+00:002017-12-30T22:03:22.377+00:00Quando me escrevoQuando me escrevo e me medito, reconcilio-me comigo, com o mundo que me rodeia e de que tantas vezes não gosto. <br />
Quando me escrevo e me medito, volto a encontrar-me e a sentir-me bem comigo mesmo, volto a pensar que alguém que amo muito e há tantos anos me vai ler, e vai gostar mais de mim e eu dela, e assim posso pensar em anichar-me na sua sombra e ter um pouco mais de paz.<br />
Quando me escrevo e me medito sinto-me mais perto de ti e sinto-te mais perto de mim Sinto que somos a nossa própria transcendência, a verdadeira transcendência do ego de que fala Sartre. É a consciência de si e o conhecimento de si ou de nós, enquanto seres pensantes e criativos, únicos e irrepetíveis mas que nada nos impede de nos imaginarmos um.<br />
Por Amor tudo é possível tudo é belo e tudo é bom. O kalos kai agathos da Grécia clássica.<br />
É por Amor de ti que me escrevo, me medito e Sou.<br />
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JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-64354963394251723612017-12-30T20:20:00.001+00:002017-12-30T20:20:30.057+00:00A banalidadeSou um inimigo nato da banalidade, de tudo o que para mim possa ser vulgar. A mesmice, a pequenez de espírito, o viver a vida só pela metade, o não ser capaz de ser si mesmo e fugir à carneirada, o poder voar como as águias mas contentar-se em ser ave de capoeira, irrita-me, quase me leva a gritar a plenos pulmões contra a estupidez humana, na praça pública e envergonhar aqueles a quem sirva a carapuça. Mas como disse Schiller e eu cito no meu primeiro livro "A Decadência do Sonho", "até os deuses lutam em vão contra a estupidez". E às vezes em pessoas que eu penso que pensam, que são inteligentes e minimamente cultas. Apetece-me bater-lhes, ser bruto, abaná-las, não para caírem no chão, mas para caírem em si.<br />
Por causa disso tenho arranjado inimigos (não diz um provérbio árabe que quem não tem inimigos não tem valor?), vivido mal entendidos, apedrejado como iconoclasta de mitos, preconceitos e de farisaísmos hipócritas. Mas não me rendo, não consigo ser banal, e no dia em que o for, então é porque estou a igualar-me a essa maioria que desprezo. Não, não sou, nem espero ser algum dia, nem politica nem socialmente correcto. Não embarco nessas fantochadas, senão, não sou eu, mas uma outra coisa qualquer, que os outros fizeram de mim. E como disse Jean Paul Sartre no seu "Testamento" o importante não é aquilo que os outros fazem de nós, mas o que nós mesmos conseguimos fazer daquilo que os outros fizeram de nós. É mais ou menos isto, mas fica o sentido.<br />
Igual à carneirada? Espero que nunca. Só serei igual aos outros quando morrer, até lá Deus deu-me talentos para pôr a render. JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-50798079286064774012017-12-26T18:36:00.000+00:002017-12-26T18:36:22.998+00:00A ternura A ternura que tantas vezes se sente apenas num abraço ou num beijo de despedida é também uma obra de arte, com o seu quê de aventura e vagabundagem, da vivência de uma infinita liberdade, numa convivência e numa cumplicidade só entendida por quem se abraça ou se beija, que são outras notas de música, para além das que Guido de Arezzo criou, e que são cores e telas, poemas calados e escondidos nos sentidos de quem ternamente ama, ou em que até se esculpem caras, gestos e sorrisos, olhares, e tudo isto numa ribalta que é a vida.<br />
A ternura que se sente por uma criança ou por alguém que se ama desmesuradamente, mas que também se pode ter por um quadro, por uma escultura ou por uma nota musical, por uma voz que canta ou por uns olhos que choram, por um soneto ou um conto de Natal, pelo olhar perdido no nada de um velho pobre e vagabundo. Talvez nisto esteja apenas contida a Arte de Sentir.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-68306460531614896502017-12-26T18:15:00.000+00:002017-12-26T18:15:58.189+00:00A relaçãoOntem disse algumas coisas sobre Arte, e se abordei a música, a pintura e sobretudo a minha paixão pela escultura, hoje continuo refiro-me à arte da relação, uma arte de quem todos falam mas de que possivelmente poucos conhecem em profundidade já que ainda por cima sou um velho apreciador, leitor e estudioso da obra e do pensamento de Martin Buber, que além de ter escrito um livro que teve uma grande influência no meu pensamento, "EU-TU", disse que para além do que vem escrito no Génesis, que "no princípio era o verbo", ele acrescentava que "no princípio era a relação". Foi muito com o pensamento dele e de mais alguns grandes pensadores do século XX, que fundei em Portugal a Licenciatura em Psicopedagogia Curativa, hoje Pedagogia Clínica, dando o nome à profissão reconhecida em Diário da República como a de Pedagogo Clínico. aliás o quarto país da Europa, já que só existia na Alemanha (onde fiz um mestrado e conheci esta disciplina), na Suíça e na Bélgica.<br />
Mas falava eu de relação, e por extensão, da arte do convívio, quase que numa continuação da "Arte de Amar" de Ovídio. E na relação basta o olhar, como nos é hoje bem patente, o olhar, só o olhar que havia na paixão que Da Vinci manteve longos anos com o jovem Gian Giacomo Caprotti, conhecido apenas por Salai.<br />
Os traços que se fazem com os gestos, as palavras que se dizem e chegam a ser ternas melodias, os pensamentos que se expressam e se comunicam cheios de coloridos que podem fazer lembrar campos de flores, por exemplo de girassóis, à Van Gogh, além do que fica por verbalizar porque só os olhos dizem, às vezes com vergonha de não serem entendidos, a relação, o convívio, e que é muitas vezes um fado falado como o que tão bem sabia dizer João Vilaret, ou nos "Quadros de uma Exposição" de Modest Mussorgski, em honra de uma relação de grande amizade que ele tinha por Victor Hartmann, arquitecto mas também pintor. JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-83877184500681614422017-12-25T13:31:00.005+00:002017-12-25T13:31:47.294+00:00Sobre ArteSempre fui um deslumbrado perante o que o Homem conseguiu fazer a partir da sua imaginação e criatividade. Com um pincel e tintas, uma pedra, uma tela ou um madeiro, onde pudesse reproduzir formas, figurativas ou não, com um cinzel e pedra ou um pedaço de madeira, fazer surgir uma lágrima num rosto ou o drapeado de um vestido, com uma caneta e uma folha de papel onde pudesse escrever sobre o que viu, ouviu dizer, sonhou ou imaginou ou ainda com uma pauta e um qualquer utensilio capaz de repercutir sons, a que mais tarde se chamou tambor, violino, piano, flauta, viola ou outros, de entre as centenas que penso existirem espalhados pelo mundo e nas mais diversas culturas, e a que se chama simplesmente instrumento musical, o Homem fez Arte, arrancando das telas, das pedras, dos papeis e das canetas ou dos instrumentos, o mais maravilhoso que aos olhos ou aos ouvidos dos homens, podem fazer desencadear neles as mais variadas sensações, emoções, pensamentos e até recordações, umas organizativas outras apenas reorganizativas. <br />
A Arte em geral faz-me sair de mim e partir para outros mundos, onde me sinto inundado de prazer, de uma mirífica paz, de sensações que as mais das vezes não sei expressar mas apenas ficar quieto, a senti-las.<br />
Mas creio que de todas as formas de Arte, embora as amando a todas, pois todas elas ocupam um lugar imenso dentro de mim, a que mais me fascina é a escultura, que desde o tempo dos assírio-caldaicos, indús, egípcios, gregos, como por exemplo Fídias, Aleixo ou Lisipo, me deixam no mais completo êxtase.<br />
Sei que de tempos mais antigos pouca pintura ficou, alguma escrita, alguma escultura, em comparação com o que foi produzido a partir da Idade Média e sobretudo na Renascença. E se calhar por ter visto mais escultura da Renascença, ao olhar para uma peça de Miguel Ângelo e sobretudo Bernini, me fazem sentir mais perto do Criador, de Deus! Ou se mais tarde olho uma talha do Aleijadinho ou uma terracota de Machado de Castro, sinto-me sempre com os pés acima do chão. <br />
O David do Buonarroti é de uma perfeição quase absoluta, mas o David em Esforço, de Bernini, naquele sair da pedra a gritar a sua raiva contra Golias, como se de facto tivesse voz, e a esticar a funda com a pedra que o mataria, arrepia-me de beleza. <br />
Mais recentemente, além do nosso Soares dos Reis, fico-me por Rodin e Brancusi embora tenha medo de ser injusto com uma imensidão de outros grandes.<br />
Hoje em dia, no entanto, a escultura, é para mim, mesmo feita a martelo e não me comove um bocadinho, quanto muito entretêm-me.<br />
Não que diga que "isso até eu fazia". Não, não caio nessa estúpida asneira, porque sei que em boa verdade não o fazia coisa nenhuma. Mas o que têm estes escultores, cortando a pedra a black and decker, com os que esculpiam a escopro e cinzel?<br />
Enfim, é só um desabafo, porque o que sinto ao olhar para um Caravaggio ou um El Greco, ou a ouvir um Chopin, um Bach ou um Mozart, também, as lágrimas me bailam logo nos olhos.<br />
JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-91838559509989538182017-12-10T16:53:00.000+00:002017-12-10T16:53:06.323+00:00Na minha adolescênciaNa minha adolescência, e quando ainda fazia anos, sempre tive a ideia de que dava mais um passo para fora do tempo, e cheguei mesmo a sonhar que esse passo que dava era mesmo para um abismo de que nunca conseguia ver o fundo. Penso que a princípio me custava, confesso, como que me sentia percorrido por um medo irracional, por um qualquer desconhecido, que afinal não seria mais do que o tal abismo. Mas hoje em dia, com o passar dos anos já sinto um grande desapego pelo tempo, como no fundo vou sentindo também por tudo o que são, ou me parecem ser, coisas materiais.<br />
Há anos que não entro num antiquário ou num alfarrabista à procura de um livro ou de uma gravura antiga, como também já há uns anos que cada vez compro menos livros, tendo é voltado a ler muitos de que já me tinha esquecido, e onde volto sempre a sentir um grande prazer ao lê-lo e ao descobrir coisas novas, diferentes.<br />
Continuo a entrar nas livrarias, isso entro, é um vício como outro qualquer, folheio os livros, leio as badanas, às vezes até me debruço num prefácio ou sobre a biografia do autor que não conheço. Mas de resto, contento-me em olhar e a revisitar os livros que tenho em casa, e são muitos milhares, e assim me vou deixando tentar por voltar a lê-los, e no que neles sublinhei ou escrevi nas margens das páginas. São eles, sim, bocados de tempo que fui usando conforme pude e soube, ao longo do tempo que fui gastando a construir em mim um pensamento, uma maneira só minha de ser e de estar, sendo cada vez mais claro em mim, que mais cedo ou mais tarde, irei sair definitivamente do tempo, quase que sem que o tempo dê por issoJMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-88377532661769431622017-12-04T21:51:00.001+00:002017-12-04T21:51:59.521+00:00AdmiroAdmiro a coragem que algumas pessoas conseguem ter para viver e conviver com as suas solidões. Penso-as pessoas inteiras, independentes, perante a vida e o mundo e que sofrem como se para elas isso fosse só uma outra forma de respirar.<br />
Às vezes dou comigo a pensar que estas pessoas devem ter feito um pacto qualquer. O eu não persegue o si mesmo e vice versa. Olham-se quando passam um pelo outro e há sempre uma cortesia, como que um aceno de cabeça e têm sempre a preocupação de fazerem tudo para não se chocarem.<br />
Mas acredito que às vezes se sufocam. Que o ar lhes falta, um ar que na maior parte das vezes é feito apenas de gestos, de sorrisos, de um abraço. Às vezes de um beijo.<br />
Admiro tudo isto nas pessoas que vivem e convivem com a solidão. E não choram!<br />
Porque eu sou capaz de chorar só de pensar na solidão dos outros.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-13397341597245331012017-11-26T23:33:00.001+00:002017-11-26T23:33:25.569+00:00A Sombra do Vento<div>
Acabei de ler dois livros de que gostei imenso: "O Menino de Cabul" e "A Sombra do Vento".</div>
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Apetece-me falar um bocadinho de "A Sombra do Vento".</div>
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É de facto um livro extraordinário e dos que mais me prendeu a atenção nos últimos tempos. Muito bem escrito, de maneira a conseguir arrastar o leitor sem o maçar, com uma história incrível, com laivos de poesia, por um lado, e de uma crueza como só pode haver em guerra e particularmente entre homens que no fundo são irmãos. Fez-me reflectir em muitas coisas que têm a ver com a natureza humana, mas também com a juventude, o amor, a amizade, essa extraordinária forma de amor, a decrepitude humana, a ascensão e a queda de tudo o que, porque é efémero na vida, ainda por cima é aviltado pela inveja, pelo ciúme, pela pequenez de espírito, pelo oportunismo. Lembrei-me de uma frase de Schiller, que sito no primeiro livro que escrevi "A Decadência do Sonho", e em que ele dizia "que até os deuses lutam em vão contra a estupidez". Que verdade, meu Deus! </div>
JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-47777727740639205372017-11-26T23:30:00.000+00:002017-11-26T23:30:47.092+00:00A Relação<div>
Há imenso tempo que não vinha aqui escrever, o que não tem a ver com falta de interesse, nem muito menos com falta de assunto. Sou é de facto, cada vez mais dado a pensar, o tal vício de que falo no primeiro texto, ou a falar directamente com as pessoas, olhos nos olhos, para que o que diga possa ser logo mais permutável, mais dialogável, e possa haver logo mais Relação, do que estar aqui neste outro tipo de relação, com uma máquina, que não me deixa ver nela quaisquer emoções ou sentimentos. É uma relação, sem dúvida, mas prefiro a Relação, mais quente, do Eu-Tu, que Martin Buber, de certo uma das minhas referências, imortalizou em livro.</div>
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Mas hoje apeteceu-me pensar por escrito. Pensar na Vida, na Morte e na Relação. Tudo na Vida é feito de Relações e na Morte, por fim, da falta delas, restando apenas, e o que é muito, a Relação com Deus. </div>
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Voltando a Martin Buber, esse entusiasta da Relação e do Ecumenismo, que tanto propalou como professor nas Universidades de Frankfurt e de Jerusalém, nas suas análises das Relações pessoais como realidades vivas, e que dizia, ao invés do que vem no Génesis, que "no principio é a Relação", e não o logos, dando comigo perdido nos labirintos dos meus pensamentos.</div>
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E ao falar da Relação, penso logo no Amor, na Amizade, essa talvez mais pura forma de Amor. E penso tambm, com tristeza, como até a Relação está em crise, mais uma vez, entre culturas, religiões, países, povos, famílias, pessoas. E ser Pessoa, como um Amigo muito querido escreveu neste blog com letra grande, é muito mais do que ser homem ou mulher. É, de facto, ser Pessoa, uma entidade definitivamente muito mais rica, e que está e vive liberta de quaisquer contornos, características, diferenças anatómicas, psicológicas ou outras quaisquer com que a queiram definir, e, portanto, limitar dalguma forma. É o Amor definível, limitável ? É claro que não, e quem disser o contrário, é porque não sabe o que está a dizer, e o que é mais triste, não ama nem sabe o que é o Amor.<br />
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E continuo a pensar em como nunca mais temos tido a oportunidade de reviver as Relações, as Amizades míticas que na Antiguidade Clássica, de tanto brilharem entre as Pessoas continuam, ainda hoje, passados tantos anos e tantas coisas a preenche-los, a brilhar nos céus, no firmamento, feitas Constelações sempre presentes e a regular as vidas de tanta gente que acredita nos Astros.<br />
Mas constato, com tristeza, que a maior parte das pessoas, substitui cada vez mais esses Astros feitos de Pessoas e das Relações entre elas, pelos astros da moda, do dinheiro, das telenovelas, e o que é mais triste ainda, do futebol e da política em que como astros, não chegam sequer a buracos negros, a anãs brancas, porque alem de tudo, nem sabem o que isso é.<br />
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Onde está o Amor? Onde estão as Relações privilegiadas, únicas, irrepetíveis pela sua singularidade e especificidade, em que continuo a acreditar, mas que vejo cada vez menos alcançáveis, menos vivenciáveis, menos possíveis, e, pelo contrário, cada vez mais decadentes, mais auto-destrutíveis, num niilismo asfixiante, num entropismo imparável e repetidas até à náusea, como réplicas de ondas de choque de um terramoto qualquer que assola as estruturas tectónicas dos corações humanos.</div>
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E hoje fico por aqui, esperando que haja cada mais Pessoas, libertas de preconceitos e de uma qualquer pequenez de espírito, a combater a desertificação do Pensamento, do Amor, da Relação.</div>
JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-82276253818604268712017-11-26T23:23:00.000+00:002017-11-26T23:23:13.668+00:00Acerca de uma família a fingir.Hoje dormi pouco e mal. Mas a noite insone fez-me pensar. Sim, pensar, porque o meu cérebro é que esteve acordado. Não digo recordar, isso não, porque tinha que usar o meu coração e o meu coração, esteve sempre ocupado com o amor que cada vez mais tenho e sinto pelos meus "humilhados e ofendidos". E é aqui que começa esta história, que me contaram, mas que até me parece que a sonhei, porque de facto é confusa. Eu até entro nela e não entro. E não sei se ma contaram ou se fui eu que a inventei. Ou li-a num artigo sobre uma família qualquer que um amigo meu de há muito conhecia e resolveu escrever sobre ela no seu blog. E comecei a ler o que ele tinha escrito.<br />
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Não escrevo este apontamento como Salústio fez com Lúcio Sérgio Catilina, descrevendo bem a "Conjuração Contra o Senado", em que se envolveu, embora permaneça algum obscurantismo em relação aos factos de que foi acusado na altura, nem como Cícero nas suas "Verrinas", contra Verres, e as suas venalidades e rapinas na Sicília, embora me apeteça estabelecer alguns paralelismos com gente que eu conheço, ou julguei que conhecia, hoje, pobres Catões que à sua maneira, têm vindo a viver obcecados a destruição de uma Cartago, que por coincidência tem agora o meu nome. Talvez daí o meu interesse nesta história, pois doutro modo não perdia tempo a ler sobre gente tão pobre de espírito, tão fingida, tão mesquinha. É que para grande escândalo desta família tão pudica, (a fingir, é claro), acusaram-me de ter tido um caso com Dido, não fazendo a mínima ideia, (nem podiam fazer, claro, ignorantes como são), de que nunca me chamei Eneias nem tão pouco vivi alguma vez no Norte de África.<br />
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A verdade, tenho que a aceitar com pena, é que quem eu mais gostava que lesse isto, não a vai ler. Não só no meu blog. Não lê, simplesmente, por formação, por incapacidade, já que ler não é só saber juntar letras, mas saber o que elas querem dizer quando se juntam. E eles não sabem. Coisas de família. Já na casa paterna não se costumava ler, não havia livros, fingiam, também aí fingiam, ser uma casa monástica e medieval, e cheia de valores e de princípios. Mas... agora me lembro, que até havia lá um escritório, (não um "scriptorium" pois nele nunca nada se escreveu), com uma bela secretária, talvez Napoleão III, onde, quanto muito se terá escrito alguma receita - havia um médico na família - , (que bem teria querido ser Celso, o célebre médico do século de Augusto, e a quem até chamaram de Cícero da Medicina, mas a mulher, por ciúmes, e que não eram a fingir, nunca deixou abrir consultório), ou algum rol de compras, ( havia sempre muita gente à mesa) ou mesmo se terá assinado algum contrato de venda de cortiça ou de compra de algum prédio, (eram proprietários). Que eu saiba, mais nada, absolutamente mais nada. Havia também uma estante com livros. Encadernações bonitas e gravações a ouro. Mas o que pasmava, é que os livros eram falsos, quase todos a fingir. Era isso, de madeira a fingir carneira. Ninguém os tinha escrito, apenas um carpinteiro habilidoso os tinha feito. A fingir. Por isso, por trás das bonitas lombadas não havia páginas nenhumas para ler, nem sequer de madeira. E começavam ali, para mim, os "sepulcros caiados" de que fala um Livro de que, pensava eu, tanto gostavam de ler lá por casa, antes das refeições. Dum lado dessa estante a fingir, estava aberta uma caixa com duas pistolas de duelo, do século XIX, como paradigma da falta de diálogo que por lá sempre houve, pois, com aquelas pistolas ou se matava ou se morria. Não havia lugar para pontos intermédios, troca de opiniões, pois quem ousasse ter alguma ideia ou opinião diferente, era simplesmente proscrito. E pelo contrário, tudo era irrelevante, como se para eles alguma coisa pudesse ser relevante a não ser fingir. Só fachada. Por trás duma dessas falsas prateleiras com os tais livros a fingir, podia abrir-se uma portinhola e aparecia um bar, que não era a fingir, ( apenas para provar que há sempre excepções à regra), com copos, saca-rolhas (não confundir com sacabuxas, o nome antigo dos trombones, instrumento que até pode parecer estar a ser agora usado por mim) e algumas garrafas de bebidas espirituosas. Essas penso que tinham alguma coisa lá dentro. Umas. Outras também eram a fingir! E lembrei-me de Gomes Leal e do seu magnífico poema "A Senhora Duquesa de Brabante", e de quando o filho (disforme, malquisto, horroroso!) lhe morre e de quem ninguém teve pena. Mas nesta história até tive pena. Apenas pena de não ter sentido pena nenhuma. Nem "saudades, de saudades já não ter", como numa letra de um fado. É que nem nas vascas da morte a matriarca pediu que chamassem a Filha e os Netos que tinha abandonado há dois anos, ( nem que fosse a fingir) para com eles ter uma palavra de reconciliação. Felizmente é que na verdade e não a fingir, foram todos vê-la ao hospital dois dias antes.</div>
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Depois vieram as costumadas exéquias. Na Igreja, numa essa barroca folheada a ouro, (também a fingir, com certeza) foi colocado o caixão ou talvez apenas um cenotáfio (há quem finja tão completamente . . .) E houve Missa cantada, com Homilia e Leituras, umas Sagradas e outras profanas, com coisas bonitas, concordo, mas outras que pareciam ser para uma outra ocasião qualquer, talvez para serem escritas ou lidas num dos tais livros a fingir que só tinham lombada, numa estante a fingir, de uma casa a fingir de uma família a fingir. Mas contaram-me muito mais coisas, sei muito mais coisas, mas aí fui eu quem fingiu não perceber.</div>
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Uma mulher já entrada em anos, mirífica e mirificada na sua função de Ministro da Comunhão, deu-me o Senhor, "o Corpo de Deus", disse, e eu, Amém, num assim seja de aceitação de O receber das mãos de alguém que vive de relações cortadas com uma data de gente da sua parentela incluindo inocentes criancinhas. Mas dela nem um sorriso, um toque cúmplice na minha mão que recebia a Partícula Consagrada como fazem tantas vezes os padres quando reconhecem amigos e se regozijam de ali os ver. Mas nada! E na minha alegria de O receber, fiquei triste pela minha Mulher e pelos meus Filhos, votados ao ostracismo sem saberem porquê, espantados com tanta maldade gratuita. Nenhum deles se chama Ovídio, mas esse, mesmo assim sabia porque é que Augusto o tinha desterrado para Tomes, nos confins do Império. Ovídio tinha-o traído com a mulher dele. Foi essa a razão, embora questionável, pois se a Imperatriz não foi forçada a fazer o que fez, mas pelo contrário se sentiu feliz nos braços do poeta, e com ele manteve uma longa amizade, então deveriam ter ido os dois, continuar a viver a sua concupiscência, lá para o país dos Getas.</div>
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Tudo isto seria de fazer rir o mais sisudo, se não fosse trágico. E eu não sou tragígrafo. De qualquer maneira ontem foi, a "anagnórises", de uma tragédia que ainda se acreditava estar na "peripécia". Como me enganei! Como tanta gente continua a viver enganada! Julga-se puderem ter escrito a "Arte de Amar", mas não lhes faltou inspiração para escreverem uma "Arte de Fingir", ou de rescreverem a "Arte de Furtar", já que souberam roubar a confiança que neles tanta gente tinha posto. Mas esse interessante livro já foi escrito no século XVII.</div>
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Mas na boa tradição portuguesa tem mesmo de ser para rir, como por cá se faz desde as "Cantigas de Escárnio e Maldizer" (embora elas andassem sempre de braço dado com as "Cantigas de Amigo" e as "Cantigas de Amor"), passando mais tarde pelo extraordinário Gil Vicente, com os seus autos tão sarcásticos, e mais recentemente por Nicolau Tolentino ou mesmo por Barbosa du Bocage.</div>
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E ao lembrar-me de Bocage apeteceu-me transcrever para aqui um pequeno poema que já escrevi há uns bons tempos:</div>
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"Quero enlouquecer</div>
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De névoas e de sonhos.</div>
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Quero partir para fins</div>
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De que nunca soube, </div>
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Nem saberei os princípios.</div>
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Quero viver vidas de outras vidas,</div>
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E "ser tudo de todas as maneiras", </div>
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Por estes lugares perdidos. </div>
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Onde ninguém é ninguém </div>
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Quando é esquecido</div>
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Pela própria Mãe.</div>
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Mas isto assim</div>
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Não é mundo, é imundo, </div>
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Onde mais amo as diferenças</div>
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Feitas das coisas primeiras.</div>
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"E já Bocage não sou",</div>
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Nem nunca fui.</div>
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Mas como ele "desfeito em vento"</div>
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Nesse soneto escrito na agonia</div>
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Ando de ruptura em ruptura,</div>
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A suspirar, isso sim,</div>
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"Pela paz da sepultura".</div>
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É claro que não vou ser lido por quem eu mais gostava que me lesse, porque, como já disse, não leem nada, a não ser, talvez, (procuro dar sempre o benefício da dúvida), jornais como "A Bola" ou o "Record" ou talvez alguma de mexericos sociais onde aprendem algumas torpezas que ainda não conheçam, o que é difícil. Mas tudo isto não pretende ser mais do que uma reflexão, pois doutro modo era dar a esta questão demasiada importância, e ela só tem, quanto muito, a importância deste pequeno e paupérrimo panegírico à mediocridade e ao farisaísmo hipócrita e até a um certo idiota-cretinismo, que pelos vistos afecta muita gente naquela família, talvez por hipotiroidismo ou falta de iodo. Coisas hereditárias. Afinal, e vendo bem, não estou sequer a pensar em pessoas, mas apenas em falácias, já que ainda por cima são muitos e daí o ruído parecer ser maior. Mas é só ruído, um ruído feito de silêncios e de coisas escondidas.</div>
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Felizmente tenho um Amor muito grande pela minha Mulher, pelos meus Filhos e pelos meus Netos que tanto adoro e alguns Amigos por quem tenho também um grande amor e ternura (o que sempre lhes fez imensa confusão) e que sempre estiveram ao nosso lado neste dia onde mais uma peça foi representada no palco da vida. Não sei quem me contou esta história mas penso que até sou capaz de o conhecer".</div>
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JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-72166034206698684782017-11-26T23:06:00.000+00:002017-11-26T23:06:08.527+00:00Foi meu professorEdgar Morin a certa altura intitulou-se "contrabandista de saberes". Também eu hoje me sinto a fazer contrabando daquilo que vou sabendo, para passar aos outros o que penso ter para lhes dar. Não me importo de ir por caminhos de pé posto, atravessar a vau as ribeiras do desencontro, andar perdido pelas serras raianas, pedregosas e onde os espinhos me rasgam a carne, sem saber se a estreiteza do caminho está entre as rochas e penedos ou nos abismos que às vezes me vão ladeando, sempre com medo de morrer sem sequer ter ainda nascido. Mas insisto sempre em levar a minha carga aonde penso que ela esteja a fazer falta. Tenho tido pelo caminho imensos percalços e não foram poucas as vezes em que saí humilhado e ofendido, batido, não só pelos ventos agrestes mas pelas mãos dos homens, roubado, não por salteadores vulgares que de mim querem a bolsa, mas por muitos outros que gostavam de me ver só, caído no buraco fundo da verdade. E volto tantas vezes aonde fracassei, quantas vezes fujo dos lugares de onde saí vitorioso. As trevas não me assustam, porque tenho sempre comigo as estrelas que nunca me perguntam para onde vou e o que levo comigo. E são a vela que acendo não tendo assim que amaldiçoar a escuridão.<br />
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Edgar Morin foi meu professor numa pós graduação já aqui há um bom par de anos. Entre os muitos livros que li dele - escreveu umas dezenas - lembro-me agora de "Os meus demónios"</div>
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que sempre me faz pensar nos meus, com quem aliás não me dou tão mal como isso, porque também não posso estar sempre a rezar aos anjos bons. Em tudo cada vez mais penso que tenho é que conseguir a harmonia dos contrários, e é por isso que também não me importo de subir ao cimo das montanhas, porque de lá de cima consigo distanciar-me tanto do bem como do mal. </div>
JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-29249648520171349712017-11-26T23:02:00.001+00:002017-11-26T23:02:37.857+00:00ESQUECERE beijei-te com a avidez de quem tem fome desde há muitos sonhos. E senti que o teu olhar me perguntava se era tudo verdade. Foi quando vi que uma lágrima te corria pela cara e me gritava angústias. E até me molhou o peito, enquanto as minhas mãos se passeavam pelo teu sentir.<br />
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Voltei a beijar-te, os gestos e o sorriso, e com as minhas mãos vazias, esculpi na pedra o teu olhar, e esculpi também depois o travo com que fiquei, ao saborear em ti tudo o que o meu sonho um dia me tinha contado. E sofri, sofri para depois te poder esquecer.</div>
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E resolvi fugir de ti e de todos, e exilar-me nos confins do mundo levando comigo debaixo do braço um livro de Vintila Horia: "Deus Nasceu no Exílio". </div>
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Também Augusto exilou Virgílio para os confins do Império Romano do Oriente, para Tomes, o país dos Getas. Só que ele, mesmo assim tinha um cão a que pôs, como vingança, o nome de Augusto. </div>
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Mas eu não quero ter cão nenhum, e se tivesse, nunca lhe poria o teu nome. Quero esquecer-te, mas sobretudo, quero esquecer-me. De mim. Única forma de me libertar, e ficar preso.</div>
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Foi quando senti que Zamólxis, ao ver a minha fé, me recebia e apertava ao peito.</div>
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Ao ler "As Confissões de um Homem Céptico", de Lucrécio, senti que o chão que pisava, partia sem mim, para longe, muito longe, até o perder de vista. <br />
Foi nessa altura que te vi e me vi relectido nos teus olhos azuis. E fui mar e horizonte.</div>
JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-77330754252906020592017-11-26T22:54:00.000+00:002017-11-26T22:54:00.448+00:00Sinto-me órfão. Da vida. Sinto-me órfão de tudo porque só me sinto tudo o que não tenho nem o que não sou. E se ainda me sinto alguma coisa, é porque há em mim uma réstia de esperança que um dia, o dia me cubra com a luz do dia e me aqueça num beijo.<br />
É isso, sinto-me órfão de mim, porque em boa verdade há muito tempo que já morri.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-25881450488789492492017-11-26T22:50:00.001+00:002017-11-26T22:50:54.717+00:00Jorge Luís BorgesDizem que todos os caminhos vão dar a Roma. Não sei bem, e se calhar não é bem assim. Os meus caminhos, por exemplo. Alguns vão com certeza dar a Roma e levam-me a ver as esculturas de Bernini ou os quadros de Caravaggio mas os espelhos de Borges confundem-me. Sinto-me a replicar uma vida que não é nem nunca foi a minha, e acabo por me perder nas florestas de enganos onde sempre pensei que algum dia me ia fazer árvore, e enfiar as minhas raízes até ao outro lado do mundo.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-24234268083343170962017-11-26T22:45:00.000+00:002017-11-26T22:45:01.725+00:00Um dia destesUm dia destes morri, mas foi de mim que me senti órfão. E ao sentir-me órfão senti-me tudo, senti-me tudo o que não tenho. Mas vou sendo assim, nesta miséria dourada com que me visto e me dispo conforme olho ao meu redor e procuro perceber para onde está o vento.<br />
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E os meus dedos adormeceram ao piano, naquele piano em que as teclas são pontos de mim, são sons que os meus olhos continuam a tocar. Depois sinto o silêncio, e o preto e o branco das teclas sussurram-me fantasias, nocturnos e até sinfonias que não toco porque não sei ler as pautas.<br />
Mas um dia destes ouvi uma criança a chorar. Sentia-se perdida, como eu, e então fomos passear juntos ao longo do rio, e ao fundo, ela encontrou os pais. Espantoso!</div>
JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-35837740371698782602017-11-26T22:35:00.002+00:002017-11-26T22:35:38.450+00:00AMIZADESFoi um grande Amigo<br />
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À medida que os anos passam, dou comigo a pensar noutros tempos "que já lá vão", noutras pessoas, noutras paisagens, em coisas que senti, fui sentindo e já não sinto. E hoje resolvi pôr-me aqui a escrever sobre recordações, sim, recordações e não lembranças, porque é com o coração que as recordo.<br />
Tinha eu uns 16 anos. Nas festas de Paço d'Arcos, onde eu vivia e vivi até me casar, surgiu a ideia de se representar uma peça de que já não me lembro do nome. O Padre Luigi Nesi, italiano, era um missionário Comboniano grande entusiasta de teatro que pediu a um rapaz nosso colega no Liceu de Oeiras, o Luís Joyce Moniz, escrevinhador já naquela altura mas que até veio a ganhar um prémio de teatro mais tarde, para organizaer e ensaiar o grupo.<br />
Depois apareceu o Luis Benito Garcia, muito mais velho do que nós, mas entusiasta ferrenho, por tudo, mas sobretudo pela vida. Tornámo-nos amigos, apesar da grande diferença de idades, e foi uma pessoa extraordinária que me ensinou muito, me deu muito.<br />
Hoje guardo dele uma recordação terna, e um livro, o único que publicou e só para dar aos amigos os Ditirambos, numa edição bilingue de português e castelhano. Era oriundo do vale de Salazar, em Espanha, e apesar de rico, era quase um sem abrigo. Só escrevia poesia e a mulher, norueguesa, pintava. E faziam filhos. Quando morreu deixou dez filhos e um vazio muito grande dentro de mim, porque foi na verdade um grande amigo.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-19928780034554670142017-11-26T22:14:00.000+00:002017-11-26T22:14:50.118+00:00LiberdadeO Arbeit Macht Frei, "o trabalho liberta" que estava escrito na portão de entrada do campo de concentração nazi de Auschwitz, passou a ser Stadt Luft Macht Frei, ou seja, "o ar da cidade liberta as pessoas", o que obviamente não sentia acontecer-me. Preferi o campo, o verde, o vento a escrever sinfonias pelos ramos das árvores, e o cheiro a terra depois de ter chovido, e o cheiro a seco na canícula, e os pôr de sol ao fundo das campinas, e os luares que não precisavam de ser de Agosto para serem luares, rodeado de toda uma imensa corte de estrelas.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-24632397847428711682017-11-24T23:37:00.001+00:002017-11-24T23:37:32.640+00:00Há mesesHá meses que não escrevo nada neste meu blog de que tanto gosto. Mas tenho andado a pensar e de hoje não passa acrescentar nele mais qualquer coisa.<br />
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E lembrei-me de que o meu Pai me ofereceu "As Canções" de António Botto, quando eu fiz 10 ou 11 anos, disso é que já não me lembro bem e que para além da muita poesia que releio sempre, António Botto é sem dúvida quem mais releio. Tenho para mim que é do melhor que se tem escrito em Portugal, não só a poesia, como os contos e as cartas. Não é de certeza por acaso que o muito mais celebrado Fernando Pessoa se lhe refere em cartas que lhe escreveu pelo "meu mestre". Dentro da poesia, os sonetos são tão extraordinários, tanto os dedicados à "mulher morena" como os que dedica ao "jovem loiro", que os próprios ingleses, sempre tão ciosos do que é seu, o comparam a Shakespeare.<br />
Mas hoje, não sei porquê, estou a pensar mais nas "cartas que me foram devolvidas", porque também estes textos/apontamentos, que por aqui vou pondo e começaram por ser uma tentativa da tradição diarística, que afinal não cumpro, mas que acabam por ser, embora às vezes com grandes espaços no tempo, uma longa e interminável carta que não me canso de escrever e que penso nunca acabarei enquanto for vivo, uma carta que me escrevo, que a mim devolvo sempre, e que no fundo não deixam de ser pequenos gritos calados de uma maneira muito minha, de me revoltar contra a ignorância e a teimosa pequenez das pessoas que continuam a não dizer o que pensam, o que sentem ou que na realidade mais crua, afinal são. Uns pobres "palhaços articulados", sempre com a cara enfarinhada para melhor esconderem por trás dessa máscara que faz rir os outros, as lágrimas que por trás delas lhes escorrem secas pela cara abaixo e em que ninguém vê nem adivinha as suas "humanas desventuras".<br />
Esta carta que já escrevo há anos é feita de muitas cartas que só não me são devolvidas, porque sou eu próprio quem mas devolve até antes mesmo, de as mandar. E não digo a ninguém que as escrevo. Que adivinhem, se quiserem.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7190364796163140480.post-73216344561986398012017-03-20T17:48:00.002+00:002017-03-20T17:51:24.849+00:00ShakespeareShakespeare terá exclamado um dia qualquer coisa como isto: oh! quem me dera ser do tamanho do universo mas caber dentro de uma casca de noz.<br />
Deste me ser e não ser o infinitamente grande e o infinitamente pequeno ao mesmo tempo, fez-me ignorar o impossível e aceitei ir pelo meu espaço interior, e ser o vácuo que separa as galáxias umas das outras.<br />
Agarrei-me a um idealismo utópico, e ucrónico que me levou por ares e ventos numa distopia imensa mas que cabia na ilha de Rafael Hitlodeu onde me sentei numa pedra e sustive a respiração, para que só o vento me envolvesse, mas o ar não me penetrasse. Uma luz vinda não sei de onde iluminou-me o escuro que me preenchia e onde as cores eram estruturas antigas, de outras culturas de antes da civilização. No entanto os homens já pensavam, já amavam, já faziam poesia tentando fazer rimar o ser com o não ser e opondo a razão à questão em si, e questionando a existência de Deus como Homem ou a do Homem como Deus.<br />
Questionar era estar vivo e compreender que isso não é pensar mas estar apenas com o olhar fixo nas cores a desdobrarem-se e a ficarem em branco.JMAhttp://www.blogger.com/profile/16798133953267115759noreply@blogger.com0